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O que é

A gestalt-terapia, em oposição às primeiras linhas psicológicas, rompe com o modelo médico que enfatiza a doença e busca no indivíduo seus aspectos negativos. O enfoque recai sobre as diretrizes e metas positivas da existência e utiliza técnicas para auxiliar a sua produção.
Busca-se no paciente a especificação das mudanças desejadas em si mesmo de modo a auxiliá-lo a eliminar aspectos indesejados e iniciar a mudança no aqui e agora.
A gestalt a ser finalizada emergirá quanto melhor for o contato com o presente, as relações e vivências atuais. Assim, o terapeuta pode auxiliar o paciente a vivenciar a experiência conflitante na atualidade e favorecer o fechamento da gestalt.

Origem do nome

Embora não possua uma tradução literal, gestalt significa forma, estrutura organizada, configuração ou um todo que se orienta para uma definição.

A gestalt-terapia é o tratamento que considera as relações entre as partes e o todo na natureza humana e as configurações presentes na vida do indivíduo na direção de um livre fluir.

Criação

Base psicanalítica

A gestalt-terapia ganha forma e visibilidade com a publicação da obra de Perls “Ego, Fome e Agressão, que traz alternativas ao método. Ele questionava os pressupostos da psicanálise ao afirmar que ela desconsiderava as funções do ego e instinto da fome e enfatizava demasiadamente os instintos sexuais, o passado, a causalidade, o inconsciente, as associações, a transferência e as repressões.

Ainda assim, muitos traços de origem psicanalítica podem ser encontrados na gestalt-terapia.

Concepção de homem

A gestalt-terapia compreende o homem como um ser em constante desenvolvimento. É na psicoterapia que ele irá encontrar meios para promover, estimular e ampliar seu processo de crescimento por meio da integração das partes conhecidas e desconhecidas.

Mutabilidade

A gestalt-terapia considera o novo fundamental para a evolução do potencial do ser humano. A saúde do organismo vem da fluidez das condições mutáveis e indetermináveis. A ruptura desse padrão interrompe o processo natural humano e pode levar à rigidez da musculatura e do fluxo circulatório das energias.

Homeostase

É o processo autorregulatório de equilíbrio dos organismos com o meio em que vivem. Para a gestalt-terapia, as necessidades fisiológicas e psicológicas relacionam-se a este conceito. A necessidade do organismo se torna figura e se destaca dos demais estímulos presentes em qualquer contexto por um determinado tempo.

Para que a gestalt se feche, o organismo deve satisfazer essa demanda fisiológica ou psicológica e interagir com o meio.

Influências

A gestalt-terapia baseou-se em diferentes escolas para se estabelecer. Essa diversidade gerou modelos de gestalt-terapia distintos especialmente quanto às ações e modos de compreensão da dinâmica funcional do ser humano. Destacam-se quatro:

Gestalt-analítica: a influência da psicanálise nessa terapêutica é bastante significativa em razão do contato de Fritz Perls com Freud.

Os conceitos continuam muito presentes e conduzem a um modo de agir orientado pela interpretação e observação da dinâmica do outro sob a ótica dos modelos predefinidos pela psicanálise.

Gestalt-pragmática: o pensamento positivista é a influência dominante nessa linha por compreender o sujeito de forma dualista e comprometer-se com o modelo tradicional científico da modernidade. Tem grande aceitação nos Estados Unidos.

Gestalt-fenomenológica: tanto a gestalt clássica como a fenomenologia de Brentano e Husserl determinam o direcionamento dessa concepção, que enfatiza a criatividade e utiliza experimentos variados.

Gestalt-existencial: a filosofia oriental, os modelos existencialistas representados por Martin Buber (1878-1965) e a psicologia humanista são as principais referências desse grupo.

Histórico

Primórdios da psicologia

O primeiro laboratório de psicologia, fundado por Wilhelm Wundt, em 1879, na Universidade de Leipzig, tinha como objetivo criar um conjunto de estudos científicos de quantificação, análise e previsão das reações humanas com base no que estava à disposição do observador, ou seja, o que podia ser visto.

A influência do positivismo nesse processo é muito grande e se estenderá nas décadas seguintes. Havia uma preocupação em realizar testes que poderiam ser repetidos em condições fixas, gerar resultados iguais e reduzir o manejo com a psique humana ao lidar com comportamentos, o que indica forte influência do behaviorismo.

Psicologia da gestalt

Em oposição a essas escolas predominantes na época, surge, na Alemanha, a psicologia da gestalt, cujo enfoque era considerar as relações entre as partes na determinação do todo diante do conceito de associacionismo.

Os questionamentos iniciais buscavam contrariar as visões mecanicista e atomista, dando especial atenção às pesquisas que trouxessem novas perspectivas para a forma pela qual o homem compreende o mundo.

O enfoque, em um primeiro momento, voltava-se para as formas do objeto e os processos de percepção do indivíduo.

Contexto cultural

As importantes revoluções sociais, tecnológicas e artísticas do final do século 19 e início do século 20 criaram o cenário perfeito para a consolidação da gestalt-terapia.

Fritz Perls

O primeiro autor a publicar sobre a gestalt-terapia foi Friedrich S. Perls (1893-1970). Nascido em Berlim, na Alemanha, Fritz Perls, como ficou conhecido, graduou-se em medicina.

O contato com o teatro expressionista alemão serviu de referência para o modelo terapêutico que desenvolveria anos mais tarde. Participou ainda de eventos intelectuais da época que abordavam questões da modernidade e da sociedade burguesa. Alistou-se no exército na Primeira Guerra Mundial para servir como médico, mas permaneceu em um posto auxiliar em razão de um problema cardíaco.

A convivência com o círculo de boêmios berlinenses, ao retornar da guerra, ajudou a fundamentar as ideias futuras sobre a gestalt-terapia. Perls teve contato com a teoria da gestalt, a teoria organísmica e adquiriu compreensão do indivíduo como um todo quanto conheceu Kurt Goldstein no Instituto de Soldados com Lesões Cerebrais em 1926.

Contato com a psicanálise Em 1927, ao mudar-se para Viena, iniciou sua formação em psicanálise. Após uma experiência bem-sucedida e duas não tão exitosas, começou sua análise pessoal com Wilhelm Reich e ter supervisão de Karen Horney, Otto Fenichel e Helene Deutsch.

A ascensão de Hitler ao poder em 1933 forçou Perls, que era judeu, a se mudar para a Holanda e depois para a África do Sul, onde fundou o Instituto Sul-Africano de Psicanálise.

Em 1936, encontrou-se com Sigmund Freud e apresentou um trabalho no décimo quarto congresso da Associação Psicanalítica Internacional, em Marienbad, atual República Checa.

O encontro foi decepcionante, pois, além de extremamente curto, não ofereceu a oportunidade de explorar as ideias freudianas.

Cisão com a psicanálise

Insatisfeito com as condições que a psicanálise oferecia, Perls lança, com sua esposa Lore em 1942, o livro “Ego, Fome e Agressão”, responsável por provocar seu desligamento do meio acadêmico em razão de controvérsias com os fundamentos da psicanálise.

O autor buscou, em um primeiro momento, trabalhar com o aqui e agora. Anos mais tarde, rompe definitivamente com a psicanálise e muda-se para os Estados Unidos.

Influências da perspectiva holística

A gestalt-terapia, cuja preocupação estava no campo clínico, se desenvolve mais firmemente nos Estados Unidos em meio a uma onda otimista que dominava os psicoterapeutas humanistas da época e carregava uma teoria de personalidade holística com conceitos de self próprios ao existencialismo e outros tópicos limitados às formas genéricas do funcionamento psicológico.

Gestalt-terapia

Embora negue tal atributo, Perls é considerado um dos principais fundadores da gestalt-terapia. Ele se intitula apenas como um redescobridor e alega que a gestalt é tão velha quanto o mundo.

O termo que define o conceito atual surgiu de extensos e divergentes debates no início da década de 1940 entre Perls, sua esposa Lore, Isadore From (1994), Paul Goodman, Paul Weisz, Sylvester Eastman e Elliot Shapiro, o Grupo dos Sete, o qual Ralph Hefferline ingressaria mais tarde.

Lore sugeriu psicanálise existencial, enquanto Hefferline propôs terapia integrativa. A indicação de Perls pesou no resultado a contragosto de Lore, que considerava o nome inadequado.

A contestação do mundo, a crítica ao status quo e a tentativa de adaptação do homem aos papéis sociais estereotipados são questões recorrentes na gestalt-terapia.

Em 1952, o casal Perls funda o New York Institute for Gestalt Therapy e em 1954 o Gestalt Institute of Cleveland.

Esalen

Apenas na década de 1960 a gestalt-terapia passa a ser mais reconhecida e assimilada pela sociedade.

Perls torna-se referência no novo método quando começa a ministrar workshops e aulas no Instituto Esalen, em Los Angeles. Ali foram formados os primeiros gestalt-terapeutas no fim da década de 1960.

Década de 1970

O sucesso do Instituto Esalen na década de 1970 impulsionou mundialmente a abertura de centros de gestalt-terapia. Surgiram 37 entre 1972 e 1976.

Gestalt no Brasil

A gestalt-terapia foi trazida ao Brasil na década de 1970 por profissionais que tiveram contato com ela no exterior e psicólogos estrangeiros ao participar de congressos. Os primeiros centros foram abertos em Brasília.

Atualidade

Como a gestalt-terapia não buscou se firmar como uma escola com normas e regras rígidas, a flexibilidade de sua estrutura se manteve ao longo dos anos e atraiu diversos profissionais que buscaram um modelo mais abrangente.

Não houve grandes modificações entre o modelo da década de 1950 e o mais difundido nas décadas de 1960 e 1970. O movimento de contracultura da década de 1960 contribuiu para que a gestalt-terapia rompesse com a rigidez da psicanálise e continuasse como uma abordagem interessante até os dias de hoje.

A ausência de uma organização nacional ou padrões estabelecidos para a formação de profissionais permite aos institutos estabeler seus próprios critérios e seleção de profissionais. Brasil Existem centros de formação e treinamento em muitos estados do Brasil.

Os principais autores nacionais atuam em dois de destaque em Brasília. O Centro de Estudos de Gestalt-Terapia de Brasília (CEGEST) contou com a participação de Walter Ribeiro é muito procurado por iniciantes e experientes na área.

O Instituto de Gestalt-Terapia de Brasília foi criado por Jorge Ponciano Ribeiro, psicólogo que integrou o grupo inicial juntamente com Walter Ribeiro.

O lugar, que atua como clínica e espaço de formação, nasceu do desejo de ampliar a abrangência da gestalt-terapia e se tornar uma referência no país.

Na prática

A estratégia de trabalho da gestalt-terapia é o aqui e agora, ou seja, a experiência imediata do cliente e suas manifestações expressivas verbais e gestuais. O estabelecimento, por parte do paciente, de um limite na terapia é fundamental para a criação do vínculo de confiança com o terapeuta.

O primeiro passo da terapia é identificar as necessidades do paciente e fazer que ele as expresse. O terapeuta precisa ainda perceber nitidamente como o fenômeno aparece, buscar a ordem interna em direção ao equilíbrio e entender o significado e valor do todo.

Objetivo

O objetivo da gestalt-terapia é trabalhar com o mundo fenomenológico e as organizações que ocorrem no indivíduo. A prioridade dedicada a uma ou outra necessidade, que destaca algumas experiências e oculta outras, é revista com o terapeuta ao realizar o processo de formação e destruição das gestalten perceptivas e motoras.

Para contatar a gestalt inacabada e possibilitar que ela se feche, é fundamental olhar para o presente e deixar que ela venha à tona.

Terapeuta

O terapeuta, na gestalt-terapia, faz parte da relação, já que é atingido por ela. O paciente, ele e o mundo se relacionam e se transformam mutuamente. No entanto, seu papel constitui-se principalmente em ser um habilidoso frustrador, na medida em que se mostra ao paciente como uma tela na qual o paciente irá projetar o seu próprio potencial oculto.

Terapia individual ou em grupo

Perls acreditava que ela era ineficaz quando realizada individualmente. Por isso, sugeria o trabalho em grupo como o melhor meio para o progresso dos participantes, seja por envolvimento coletivo ou pela relação de um participante com o terapeuta no grupo.

Outros públicos

A abordagem gestáltica é muito positiva em contextos de terapia familiar, de casais e individual. Grupos de desenvolvimento pessoal também aproveitam essa terapia em instituições como, escolas, hospitais psiquiátricos ou empresas.

Método

Treinar o ego, as variadas identificações e alienações, através de experimentos com awareness definida das funções pessoais até que o paciente atinja o controle de si mesmo em relação ao pensamento, ação e percepção.

Técnicas

A grande variedade de técnicas na abordagem gestáltica relaciona-se a uma postura holística que visa integrar corpo, mente, fantasia e realidade.

A imaginação do terapeuta comanda o direcionamento das técnicas respeitando o encontro entre ele e o paciente.

A criatividade é importante na escolha dos instrumentos a serem utilizados. Dentre as técnicas mais famosas, destacam-se:

Exercício de awareness: Consiste em responder a quatro questões chaves formuladas por Perls: O que você está fazendo agora? O que você sente neste momento? O que está evitando? O que você quer ou espera de mim?

Cadeira quente (hot seat) e cadeira vazia: O paciente se posiciona em frente a uma cadeira vazia e projeta o que deseja trabalhar: um personagem, um objeto, uma pessoa, um sentimento. O cuidado quanto à utilização das técnicas deve ser redobrado para que não ocorra reducionismo da abordagem, já que elas técnicas só fazem sentido em seu contexto global.

Dramatização: É caracterizada pela ênfase que favorece a conscientização de uma ação tangível mobilizadora do corpo e dos sentimentos. Permite a experiência de uma situação e o contato com sentimentos mal identificados, reprimidos ou desconhecidos.

Monodrama: Variante da dramatização em que o paciente representa alternadamente os dois papeis da situação que deseja trabalhar.

Amplificação: Consiste em explicitar o que está oculto. O terapeuta sugere ao paciente que experimente de maneira mais profunda determinados gestos ou ações aparentes sobre as quais ele não está consciente.

Interpelação direta: Sugere o contato com o conteúdo emocional ao dirigir a palavra diretamente a alguém e sair do mundo interno da fantasia. É o trabalho com o sonho de forma a descrever, dramatizar e sentir no próprio corpo as emoções resultante do impacto das imagens.

Principais nomes

Elliot Seymour Shapiro (1911-2003) Educador e psicólogo, lutou contra a miséria e superlotação das escolas públicas norte-americanas, assim como contra a burocracia na década de 1960. Paralelamente à sua dedicação às questões escolares, foi terapeuta e um dos fundadores da gestalt-terapia ao ensinar a nova abordagem na Universidade do Brooklyn, Columbia e Califórnia.

Frederic Salomon Perls (1893-1970) Conhecido como Fritz Perls, é o fundador da gestalt-terapia. Filho de judeus de classe média baixa, Perls nasceu em Berlim e foi uma criança rebelde. Interessou-se pelo teatro expressionista alemão e eventos intelectuais. Graduou-se em Medicina e especializou-se em psiquiatria. Alistou-se no exército para servir como médico na Primeira Guerra Mundial.

Isadore From (1919-1994) Compôs o núcleo de fundadores da gestalt-terapia, pertenceu ao Grupo dos Sete e foi um dos primeiros pacientes de Fritz Perls no início da década de 1940. Posteriormente, auxiliou na parte teórica da construção das ideias da nova abordagem.

Laura Perls (1905-1990) Nascida Lore Posner, na Alemanha, a psicóloga e psicoterapeuta se casou com Fritz e o ajudou a fundar a gestalt-terapia após concluir doutorado em psicologia da gestalt. Viveu sete anos na África do Sul e escreveu com o esposo o livro “Ego, Fome e Agressão”. Em 1951, juntamente com Perls, Paul Goodmann e Ralph Hefferline escreveu “Gestalt Therapy”. Foi importante precursora da proposta terapêutica e fundou o New York Institute for Gestalt Therapy, que dirigiu até sua morte.

Paul Goodman (1911-1972) Nascido em Nova Iorque, Goodman graduou-se em literatura e filosofia. Sua demissão da universidade de Chicago, na década de 1950, em razão de sua orientação sexual, o motivou a defender minorias e criticar grandes instituições.

Publicou diversos livros e dedicou-se ao estudo de história, antropologia, economia, pedagogia e psicologia, mas só passou a praticá-la após o contato com Fritz Perls.

É considerado um importante ideólogo de movimentos de contracultura na década de 1960 e um dos principais teóricos do Grupo dos Sete, sendo o diretor de dois dos principais institutos de gestalt-terapia.

Paul Weisz Psicoterapeuta, apresentou a Fritz Perls o zen-budismo, uma das referências para a formação da nova abordagem.

Ralph Franklin Hefferline (1910-1974) Foi professor universitário e cujos alunos participavam dos experimentos da gestalt-terapia. Após ter iniciado um processo psicoterápico com Fritz Perls, em 1946, foi convidado a fazer parte do grupo dos fundadores da abordagem. Foi um dos fundadores do Instituto de gestalt-terapia de Nova York, em 1952 e escreveu o livro “Gestalt Therapy”, fundamental da gestalt-terapia.

Richard Kitzler (1927-2009) Psicoterapeuta, professor, supervisor, filósofo e escritor, foi paciente de Fritz Perls e fez parte do Grupo dos Sete.

Ramificações

Gestalt-pedagogia

Adaptação da gestalt-terapia para situações de ensino e aprendizagem proposta pelo russo radicado na Alemanha Hilarion Petzold, em 1977 que sugeriu alternativas aos problemas escolares.

Gestalt practice (prática da gestalt)

A abordagem, desenvolvida por Dick Price (1930-1985) no Instituto de Esalen, consiste em uma forma de exploração e integração pessoal cujo objetivo é conscientizar sobre o processo de viver em um campo unificado de mente, corpo, relações, terra e espírito.

Arte e gestalt Conceito com forte influência da arteterapeuta Janie Rhyne, cuja obra, publicada em 1973 sob o título “Arte e gestalt: padrões que convergem”, mostra a influência da teoria gestáltica no processo criativo.

Principais obras

D’ARCI, G.; LIMA, P.; ORGLER, S. Dicionário de gestalt-terapia. Gestaltês. São Paulo: Summus Editorial, 2007.

FAGAN, J.; SHEPHERD, I. L. Gestalt-terapia: teoria, técnicas e aplicações. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1980.

GINGER, A.; GINGER, S.; RANGEL, S. S. Gestalt: uma terapia do contato. São Paulo: Summus Editorial, 1995. ______. A abordagem gestáltica e testemunha ocular da terapia. Rio de Janeiro: Zahar Editora, 1977. ______. Gestalt-terapia explicada. São Paulo: Summus, 1977.

PERLS, F. S. Ego, fome e agressão: uma revisão da teoria e do método de Freud. São Paulo: Summus Editorial, 2002.

PERLS, F. S.; HEFFERLINE, R.; GOODMAN, P. Gestalt-terapia. Summus Editorial,1997.

POLSTER, E.; POLSTER, M. Gestalt-terapia integrada. São Paulo: Summus Editorial, 2001.

SPANGENBERG, A. Gestalt-terapia: um caminho de volta para casa. Campinas: Editora Livro Pleno, 2007. STEVENS, J. O. (Org.). Isto é gestalt. São Paulo: Summus Editorial, 1977.

Quem influenciou

Alexander Lowen (1910-2008) Fundador da bioenergética, buscou no Esalen Institute, na década de 1960, as novidades que a gestalt-terapia trazia ao mundo.

Influenciado diretamente por Reich, que também havia contribuído com as bases da gestalt-terapia, interessou-se pelas propostas que incluíssem o corpo no processo psicoterápico.

Os workshops dirigidos por Perls auxiliaram-no a desenvolver as técnicas de grupo que fizeram sucesso no trabalho bioenergético.

Dick Price (1930-1985) Um dos cofundadores do Instituto Esalen, foi aluno e trabalhou com Fritz Perls. Desenvolveu a prática da gestalt com influências do budismo e do taoísmo Janie

Rhyne (1913-1995) Desenvolveu um ramo de orientação gestáltica na arteterapia com base em sua experiência pessoal e sua ida a Esalen, onde conheceu Fritz Perls e realizou diversos workshops. Encantada com o trabalho do psicólogo, foi incentivada a conduzir grupos para realizar experimentos de terapia com arte.

Fontes e inspirações

Fenomenologia

Muitos fenomenologistas contribuíram com ideias para o nascimento da gestalt-terapia. Entre eles, destaca-se o matemático e filósofo austríaco Edmund Husserl (1859-1938).

Aluno de Franz Brentano (1830-1917), que defendia a tese sobre “o como preceder o porquê”, recebeu grande influência e desenvolveu seu trabalho criticando a tendência da época de redução da verdade ao empirismo e ao psicologismo.

Existencialismo

Para o existencialismo, o homem é responsável por seus atos e utiliza a liberdade para criar seus valores e agir no mundo.

Visto como um ser concreto, consciente e responsável, pode olhar para suas angústias e emoções e encontrar meios de lidar com elas. Sua compreensão de mundo ocorre conforme a experiência direta de ser no mundo em busca da essência.

A construção da existência advém dos atos, ao criar o próprio mundo e realizar as próprias potencialidades.

Humanismo

A busca pelo homem em compreender a si mesmo e se fazer ser compreendido é a principal característica desta linha filosófica, que coloca o homem como centro.

A linha surge, portanto, como uma proposta de crescimento, na direção do que é humano. A gestalt-terapia, como psicoterapia humanística, aproxima-se do humanismo na medida em que contém e promove a ideia do homem como centro, especialmente quanto à capacidade de autorregulação.

Além disso, deve consider a capacidade do ser humano quanto à realização plena do pensar, agir e expressar-se por meio linguagem, conforme defendeu Heidegger, um dos teóricos fundamentais do humanismo.

Psicologia da gestalt

Inicialmente formulada na Alemanha e na Áustria, em fins do século 19, a teoria da gestalt surge como um protesto contra a tentativa de compreensão da experiência por meio da análise atomística, que reduz a experiência à soma de suas partes.

A palavra escolhida para a teoria, “gestalt”, já contradiz a concepção atomista, uma vez que ela traz a ideia de uma organização específica de partes que configuram um todo.

De acordo com essa teoria, a análise das partes jamais proporciona a compreensão do todo, que se define pelas interações e interdependências dessas partes.

Teoria de campo de Kurt Lewin (1890-1947) A representação do indivíduo como um círculo fechado e isolado do resto do mundo é fundamental para se compreender a teoria de campo. Ele se diferencia dos outros pelo limite existente e estabelecido ao mesmo tempo em que faz parte de um sistema.

O meio psicológico constitui o que está fora do indivíduo e o espaço vital, onde o comportamento ocorre, inclui ambos. Tem ainda uma função esquemática, já que fornece as informações necessárias para se compreender o funcionamento da pessoa.

Os conceitos dessa teoria embasam epistemologicamente o avanço na construção do conhecimento.

Teoria organísmica de Kurt Goldstein (1878-1965) Neurologista e psiquiatra, criou uma teoria fundamental para o desenvolvimento da gestalt-terapia. Com base na teoria da gestalt, Goldstein criou o Institute for Research on the After-Effects of Brain Injuries para tratar as vítimas da Segunda Guerra Mundial que tinham danos cerebrais.

Lá, desenvolveu o modelo teórico sobre as relações mente-cérebro ao aplicar o princípio de figura-fundo para o organismo como um todo e presumir que ele embasaria os estímulos individuais que formam a figura.

Goldstein percebeu que um sintoma não poderia ser observado com base em uma lesão orgânica, mas sim da compreensão total do organismo, que é um sistema aberto, em constante contato com o mundo exterior. Fritz Perls muito influenciado por essa teoria.

Teoria holística de Jan Christiaan Smuts (1870-1950) Jan Smuts, um dos fundadores da Sociedade das Nações e das Nações Unidas, exerceu grande influência sobre o trabalho de Fritz Perls.

A obra “Holism and Evolution”, publicada inicialmente em 1926, propõe uma aproximação entre ciência e filosofia ao afirmar que só haveria progresso em ambas se elas se comunicassem mais.

O holismo, segundo Smuts, é uma tendência sintética do universo em evoluir juntamente com todos que critica o cientificismo do século 19 e relaciona-se com a Teoria de Campo, de Lewin.

Religiões orientais (taoísmo e zen-budismo)

O modo de ser e estar no mundo da gestalt-terapia foi inspirado nas religiões orientais. Do taoísmo, Perls aproveitou a concepção da importância de estar em contato com o vazio para se atingir a sabedoria e enfatizar a existência de um sistema de consciência.

A maneira de se aproximar lenta e vagarosamente dos sentimentos para clarificar situações é própria do zen-budismo. Contudo, o sentido espiritual e religioso das religiões orientais não foi assimilado por Perls.

Mesmo após seu rompimento formal com a psicanálise na década de 1940, Perls, em “Ego, Fome e Agressão”, oferecia uma revisão da teoria psicanalítica ao dizer que suas ideias traziam novas contribuições para a psicanálise tradicional sem defini-las como base de uma nova teoria da personalidade.

As diferenças consistiam especialmente no método psicanalítico de tratamento. Para Perls, Freud limitava-se em sua prática por não compreender o ser humano de acordo com uma perspectiva holística.

Ele criticava a importância dada por Freud a eventos passados e considerava mais importante olhar para o presente e o modo como o indivíduo se relaciona com os fatos.

A ênfase na questão da libido foi um fator crucial nas divergências entre ambos, já que Perls considerava a existência de inúmeros outros instintos como meios do organismo se reequilibrar.

Muitos conceitos psicanalíticos foram fundamentais para a construção da abordagem gestáltica ao oferecer uma visão de mundo mais existencial e menos racional.

Psicanálise

Wilhelm Reich (1897-1957) Terapeuta de Perls, exerceu grande influência quanto à inserção da questão corporal no contexto psicoterápico.

Em suas pesquisas, percebeu que a repressão das emoções ocorria por meio de contrações musculares que, cronificadas, ou seja, estendidas temporalmente em uma perspectiva desfavorável, originavam as couraças do caráter, termo desenvolvido por ele para definir os mecanismos criados pelo indivíduo para protegê-lo de experiências ruins, mas que impediam o fluxo da energia vital, denominada orgon.

Essas defesas funcionam como resistências ao insight, impedindo mudanças psicológicas. Com exceção dos estudos sobre o orgon, Perls procurou dar continuidade ao trabalho de Reich, especialmente sobre a visão do corpo em relação à psique e a percepção do organismo como um todo.

Otto Rank (1884-1939) O psicanalista austríaco foi colega e discípulo de Sigmund Freud e editor de dois importantes jornais analíticos. A ênfase no reconhecimento dos aspectos humanos de interação terapêutica, a concepção de resistência como força criativa e o uso da expressão aqui e agora são influências de seu trabalho.

Alfred Korzybski (1879-1959) Filósofo da linguagem e criador da semântica geral, buscava desenvolver o pensamento intuitivo não aristotélico. Defendia a tese que as experiências são multidimensionais e que fatores emocionais poderiam estar presentes em manifestações intelectuais e vice-versa. É dele o conceito de integração da língua e seu contexto semântico à terapia assimilado por Perls.

Sándor Ferenczi (1873-1933) Psicanalista e amigo de Freud, trouxe importantes contribuições à gestalt-terapia. O conceito de introjeção, assim como a atenção às alterações no tom de voz e postura corporal durante o atendimento foram aproveitados por Perls no desenvolvimento da gestalt-terapia.

A ênfase no manejo profissional conforme as características próprias da personalidade fez muito sentido aos gestalt-terapeutas, que buscavam um estilo pessoal no atendimento.

O conceito desenvolvido por ele de técnica ativa, em que intervenções, como as dramatizações corporais, variariam conforme as necessidades do paciente, ajudou a fundamentar a postura ativa dos gestalt-terapeutas.

Psicodrama

Técnica desenvolvida por Jacob Levy Moreno que utiliza a dramatização dos conflitos pessoais por meio da interpretação de papeis para favorecer a percepção de fenômenos. Foi uma importante referência para que Perls criasse o ir e vir e o empregasse como um método psicodramático que auxilia o paciente a aguçar sua conscientização.

Moreno propunha aos seus pacientes que fossem de um papel a outro e compreendessem suas projeções nas relações.

Fundamentos

Aqui e agora

Refere-se à totalidade da experiência do indivíduo incluindo e destacando o que está presente nas experiências cotidianas.

A autopercepção imediata e presente de seu meio é enfatizada nesse conceito de forma que, o que for problema não resolvido ou situação inacabada, emergirá espontaneamente como parte da experiência no aqui e agora.

Conforme surgem, o terapeuta auxilia o paciente a experimentá-las no presente, favorecendo a assimilação delas e seu fechamento.

Nessa experimentação, o terapeuta solicita que o paciente perceba o máximo possível sobre si mesmo, seus gestos, respiração, tom de voz, expressões, sentimentos e pensamentos.

Awareness (conscientização)

É a capacidade de manter-se consciente de algo no estado de consciência do contexto ao notar as figuras emergentes do próprio entendimento que favorecem a emersão da necessidade mais urgente e a sua posterior elaboração.  É um conceito fundamental para a gestalt-terapia.

Figura e fundo

O conceito, herdado da psicologia da gestalt, aborda a relação que estabelecida entre a figura, que aparece em primeiro plano, e o fundo, que diz respeito à perspectiva ou situação. O mundo interior do indivíduo organizará a totalidade ao dispor certas partes como fundo e outras como figura.

No processo psicoterápico, a relação figura-fundo é bastante fluida. O terapeuta deve acompanhar este movimento, auxiliar o paciente a entender a diferença entre figura e fundo, identificar a carga emocional presente nas figuras e ter controle sobre este movimento quando necessário.

Gestalt Refere-se à figura, à forma ou algo que se destaca em um todo. É o que, em psicoterapia, se relacionará aos conteúdos emergentes configurando-se como gestalten abertas que precisam ser completadas.

Insight

É a conscientização de algo que ocorre repentinamente. Diferentes técnicas podem favorecer o insight na gestalt-terapia.

Polaridade

Ocorre quando a categorização de eventos e percepções torna-se um construto rígido e imutável. É favorecida pela técnica do monodrama, em que o sujeito pode desempenhar e alternar papeis de uma determinada situação.

O contato com a polaridade excluída permite refazer a escolha de maneira mais verdadeira, reconhecer as partes e favorecer o equilíbrio.

Preponderância do como sobre o porquê

Reflete a orientação fenomenológica da gestalt-terapia em que o destaque está na descrição da experiência e não na causa, que é irrelevante e apenas distancia o sujeito da compreensão do ato em si.

O trabalho terapêutico ocupa-se da conscientização do indivíduo a respeito de seu comportamento sem buscar o motivo.

Self

Este conceito configurou-se na gestalt-terapia de maneira diversa à da psicanálise. É um processo pessoal e característico que reage de acordo com as características pessoais e a situação.

Pode ser compreendido como o ser no mundo, que varia com o contexto. Funciona de três modos: a função id, que concerne às pulsões internas; a função eu, relativa à escolha ou rejeição deliberada das coisas; e a função personalidade, que é a representação própria do sujeito, ou seja, sua autoimagem.

Wholeness (totalidade)

Esta ideia, baseada na doutrina holística, é central na gestalt-terapia e diz respeito ao funcionamento intra-orgânico, no qual Perls considera não haver distinção entre a atividade física e mental, e a participação do organismo em seu meio para construir um único campo de atividade.

Apesar da aparente independência entre o agir e o pensar, Perls enfatiza a união e integridade do organismo. Qualquer aspecto do comportamento humano pode ser considerado uma manifestação do todo, ou seja, do ser da pessoa.

Interligações

Abordagem centrada na pessoa

A técnica, difundida por Carl Rogers (1902-1987), considera as experiências pessoais importantes para definição da personalidade. Com base nos relatos do cliente, que abordam seu campo fenomenal, é possível acessar tudo o que a pessoa experimenta como seu mundo, isto é, o que os limites psicológicos permitem.

Psicologia da gestalt

A gestalt-terapia é frequentemente confundida com essa linha teórica, formulada inicialmente na Alemanha e na Áustria no fim do século 19. Nessa abordagem, a soma das partes não permite a compreensão do todo, que se define pelas interações e interdependências dessas partes.

Em contraposição às teorias atomistas da época, a teoria propõe uma nova forma de olhar a realidade.

Psicologia humanista Vertente das psicologias em geral, é baseada no humanismo, no existencialismo e na fenomenologia.

É similar à gestalt-terapia em razão das influências filosóficas comuns, embora a abordagem gestáltica seja mais específica pelas demais contribuições teóricas em sua construção.

Fontes de pesquisa

FADIMAN, J., FRAGER, R. Teorias da personalidade. São Paulo: Harper & Row do Brasil, 1979.

FAGAN, J.; SHEPHERD, I. L. Gestalt-terapia: teoria, técnicas e aplicações. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1980.

GINGER, A.; GINGER, S. Gestalt: uma terapia do contato. São Paulo: Summus Editorial, 1995.

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Aprofundamento

Livros:

Aguiar, L. Gestalt-terapia com crianças: teoria e prática. Campinas: Editora Livro Pleno, 2005.

Cardella, B. H. P. A construção do psicoterapeuta: uma abordagem gestáltica. São Paulo: Summus Editorial, 2002.

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Oaklander, V. Descobrindo crianças: a abordagem gestáltica com crianças e adolescentes. São Paulo: Summus Editorial,1980.

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Robine, J. M. O Self desdobrado: perspectiva de campo em gestalt-terapia. São Paulo: Summus Editorial, 2006.

Rodrigues, H. E. Introdução à gestalt-terapia: conversando sobre os fundamentos da abordagem gestáltica. Petrópolis: Vozes, 2000.

Vídeos:

Demonstração de atendimento de Fritz Perls – Parte 1

Aprofundamento de atendimentos de Fritz Perls – Parte 2

 Páginas da internet:

New York Institute for Gestalt Therapy 

Gestalt Institute of Cleveland 

Esalen Institute

European Association for Gestalt Therapy 

Núcleo de Gestalt-terapia no Rio de Janeiro

Clínica e Escola de Psicoterapia em Florianópolis

Gestalt Theory-The theory of gestalt therapy 

Instituto de Gestalt-terapia de Brasília

Centro de Estudos de Gestalt-terapia de Brasília

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