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Medicina Integrativa

O desafio de mudar o curso de medicina

Professores e alunos lutam para inserir outros métodos e pluralizar o ensino nas faculdades da área da saúde
Bruno Torres
27/09/19

O cientificismo que triunfou na modernidade trouxe consigo um método único de praticar medicina e tratar enfermidades. Com isso, outros métodos, sejam eles de tradições milenares ou não, ficaram excluídos do conjunto de práticas transmitido nas faculdades de medicina. Em busca de ampliar e pluralizar o ensino, há um esforço de parte minoritária da academia para inserir esses outros métodos no ambiente universitário. Em grupos de pesquisas, ligas acadêmicas ou projetos de extensão, professores e alunos lutam para aprofundar o conhecimento de práticas conhecidas como integrativas ou complementares.

Segundo a socióloga da saúde Madel Therezinha Luz, o diferencial é que as racionalidades médicas, entre elas, a medicina chinesa, a homeopatia, a ayurveda e a medicina antroposófica são regidas pelo paradigma do cuidado. Elas representam uma maneira que, muita vez, é mais atenciosa ao paciente. “O que não é o caso da biomedicina e suas filiadas, ligadas fundamentalmente à precisão do diagnóstico de patologias como critério de veracidade e eficácia”, analisa Luz que coordena o Grupo de Pesquisas em Racionalidades Médicas, sediado na Universidade Federal Fluminense (UFF) e responsável por orientar estudos na área em várias universidades do Brasil.

Todo esse esforço de parte da academia não é de hoje. “Os pequenos núcleos de resistência, nas clínicas de especialidades, nos hospitais universitários, em programas de extensão, são minoritários e marginais há mais de um século (tomando-se a homeopatia como origem da resistência)”, afirma a socióloga.

Luz também aponta que o interesse por alargar as fronteiras da experiência científica em relação às práticas integrativas é um fenômeno mundial, que vem crescendo muito nos últimos vinte anos. Segundo ela, no Brasil, mais por razões de interesses corporativos que científicos, esses estudos não estão tão avançados como no caso de países como Índia, Reino Unido ou França.

Iniciativa dos alunos

Em 2009, Fernanda Godoy Falcão era aluna do primeiro ano da faculdade de medicina da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ela era uma entre outras dezenas de estudantes da área. Fazia todos os cursos convencionais para se tornar médica. Porém, após participar de uma palestra do médico Paulo de Tarso, que abordou o conceito de medicina integrativa, Fernanda se encantou pelo assunto. “É um conceito que vai muito ao encontro do que eu acredito que é cuidar do ser humano de modo integral”, conta.

No ano seguinte, ela fundou a Liga Acadêmica de Medicina Integrativa da Unicamp, sob a orientação do Professor Nelson Filice de Barros (ligas acadêmicas são grupos de estudos com intuito de aprofundar o conhecimento em temas específicos).

Nem todos os alunos de medicina gostaram da ideia. “Vários amigos meus falam ‘Você é boba. O que é isso? Não funciona’. As pessoas não querem nem começar a discutir e passar os argumentos delas de por que elas acham que a medicina integrativa não funciona, enquanto nós temos bases de que ela funciona”, diz a aluna Mayra El Beck que participou da liga durante sua graduação em medicina.

Confira o depoimento das estudantes sobre como essa experiência transformou a prática médica pessoal de cada uma:

Pesquisas científicas

Na área de pesquisas acadêmicas, a grande dificuldade dos que querem realizar estudos com as práticas integrativas ou racionalidades médicas é encontrar métodos de avaliação que comprovem cientificamente a eficácia das técnicas. “É necessário construir adequadamente critérios de avaliação consistentes e coerentes com o que se quer analisar, para não construirmos avaliações sistematicamente viciadas. Acredito que isso seja possível, desde que se abandonem preconceitos doutrinários pró ou contra tal ou qual prática, e se busquem modos de análise e verificação adequados ao objeto que se está estudando”, aconselha Luz.

Segundo ela, para haver o reconhecimento efetivo dessas práticas integrativas ou, sobretudo das racionalidades médicas, seria necessário reconhecer que outras racionalidades em medicina e saberes de saúde são possíveis, portanto, válidas. “Não creio que isto seja possível nas próximas décadas”, lamenta.

O governo federal e as práticas integrativas

“O Ministério da Saúde no Brasil tem feito grandes esforços e progressos em relação à prática profissional e à inserção das PICS (práticas integrativas e complementares) nos serviços de atenção do SUS, sobretudo na área de atenção básica. Deve ser notada, entretanto, a separação dicotômica entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação, responsável pelo ensino nas faculdades, nos cursos de graduação em saúde em todas as áreas. As corporações da área de saúde tem grande força junto ao MEC. É muito difícil convencer os responsáveis das duas áreas ministeriais a atuarem em conjunto pelo benefício da saúde do povo, pois muitos interesses estão em jogo, de natureza política, econômica, corporativa etc”, critica a socióloga.

Há quem conteste a boa vontade do Ministério da Saúde com relação à inserção das práticas integrativas no Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2006, criou-se a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), no entanto, para a médica sanitarista Carmem De Simoni, que é mestre em saúde coletiva e participou da criação e coordenou a PNPIC entre 2006 a 2011, o Ministério da Saúde é displicente em relação a essa política, que, desde sua criação, não é beneficiada com recursos indutores para promovê-la. “Em uma situação de cobertor curto, eu vou tirar de onde não tem importância pra mim, e quem perde com isso é justamente a política de práticas, que visa a promoção da saúde. Não temos a cultura de trabalhar com a saúde e sim com doenças. O Ministério da Saúde é um ministério de doenças, não de saúde”, alfineta a médica.


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