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Diversão e Viagens

Kin Dias e a metamorfose da fotografia

Em entrevista, o fotógrafo conta como foi a transição das paisagens exuberantes para as situações do cotidiano
Bruno Torres
27/09/19

As melhores coisas na vida são surpresas. Acontecem praticamente sem querer. Parecem uma concatenação, um plano do mundo para nos empurar para novos e mais interessantes caminhos. Foi assim que o paulista Kin Dias decidiu levar a fotografia mais a sério. Tudo começou quando sua câmera digital quebrou durante um treckking no Nepal, em 2004. Ele conta que recorreu a uma câmera de filme que havia emprestado da irmã apenas por precaução. “Foi a melhor coisa do mundo, pois com a câmera de filme, o meu olhar ficou mais solto. Quando voltei para o Brasil e mandei revelar, eu achei incrível, as fotos ficaram demais. Se minha câmera digital não tivesse quebrado, talvez eu jamais teria mergulhado na fotografia", relata Dias.

Além da fotografia, Kin gosta de mudança. Nesses dez anos como fotógrafo, ele reinventou o seu estilo de fotografar. “Eu já tive muitos trabalhos, a única coisa que não passa nesse tempo todo é a fotografia. Eu estou fazendo isso agora e se não estou feliz, eu largo. Não consigo ficar num lugar que não tenho tesão. Mudar não me assusta”, diz.

Em entrevista exclusiva ao Portal NAMU, Kin Dias conta como o autoconhecimento o levou a abandonar o hábito de fotografar paisagens exuberantes para mergulhar no universo do cotidiano.

Portal NAMU: Como você começou a tirar de fotos?
Kin Dias: Eu sempre gostei muito de fotografia, mas não gostava de fotografar, porque sou um preguiçoso nato, não via graça em levar o filme e ter todo aquele trabalho. Quando começaram a surgir as primeiras câmeras digitais, eu comprei uma dessas pequenas.

Close no pé de uma pessoa andando ao lado de tambor verde
Homem faz trabalho de artesanto em Mandalay, Myamnar, 2008

Em 2004, abandonei um emprego no mercado financeiro e resolvi fazer um treckking no Monte Everest (Nepal). Levei essa câmera digital. Como eu sabia que em lugares frios as baterias muitas vezes não aguentam, acabei levando também uma câmera de filme emprestada da minha irmã. Foi a melhor coisa do mundo, pois no primeiro dia do treckking a câmera digital quebrou. Com a câmera de filme, o meu olhar ficou mais solto, porque eu não sabia ao certo o que estava fotografando.

Quando voltei para o Brasil e mandei revelar, achei incrível. Eu não sabia fotografar direito, não sabia o que era velocidade e abertura, mas as fotos ficaram demais.Toda a viagem por alguns lugares da Ásia renderam cerca de 60 filmes. Foi então que comprei uma câmera melhor, fui fazer cursos, estudar, comprar livros e aí começou essa paixão pela fotografia. Se minha câmera digital não tivesse quebrado, talvez eu jamais teria mergulhado na fotografia.

templos em Myamnar
Bagan, Myamnar, 2008

Nesses dez anos, o que mudou no seu trabalho?
O que mudou claramente no meu trabalho é que, por exemplo, nas fotos de Myamnar (2008), existe uma distância maior entre o fotógrafo e o fotografado. Até o equipamento era diferente, eu usava mais a lente teleobjetiva e não me colocava muito dentro da cena. Nos meus trabalhos mais recentes, eu estou muito mais dentro da cena, as coisas estão acontecendo mais próximas a mim.

Antes eu fotografava mais paisagens, quando entrava uma pessoa na foto eu achava feio ou então a pessoa tinha que estar naquele ponto exato. As fotos de Myamnar são as primeiras nas quais eu comecei a colocar gente na foto. E pensei: 'Nossa é muito mais legal quando tem gente do quando não tem. Foto de árvore é chato'. Eu gosto muito do trabalho do Ansel Adams, acho ele incrível, as fotos são lindas, mas elas não me comovem. Há fotógrafos altamente conceituados que fazem um trabalho perfeito, mas eles não me emocionam. Por isso comecei a abandonar a paisagem e essas técnicas mais certinhas.

monge lendo um livro da tradição em Myamnar homem agachado olhando para câmera em Myamnar
Bagan, Myammar, 2008 Inle lake, Myamnar, 2008

As fotos feitas em Myamnar são fruto de um workshop que eu fiz com o Steven McCurry, em 2008. Eu era apaixonado pelo trabalho dele. Hoje, eu acho lindo, mas não é o que eu busco. Essas imagens que fiz são quase retratos, quase não tem essa bagunça que tem nas minhas fotos mais atuais, que tem um monte de gente e várias coisas acontecendo. A ideia hoje é capturar esse momento no qual acontece tudo ao mesmo tempo. Eu já não sei mais fazer fotos iguais essas de Myamnar.

visão da janela de meninas brincando
Darjeling, India, 2012

O que fez você ter esse outro olhar sobre a fotografia?
Eu fui estudando bastante e aprendendo com os mestres. Como em qualquer outra forma de expressão artística, a fotografia retrata somente o que carregamos, nossas próprias experiências, frustrações, sonhos etc. Minha fotografia nada mais é do que o meu olhar. A cena está lá para todos, eu não criei nada. As imagens que produzo representam o meu olhar sobre aquela cena. Eu acho horrível pedir para pessoa posar.


Avoca, Wisconsin, Estados Unidos, 2014

Por que suas fotos dão grande destaque para cores?
Eu faço foto colorida e não preto e branco porque as cores pulam na minha frente. Porém, eu não fico pensando 'vermelho é legal com verde'. Se eu parar para pensar, a foto não acontece. Outro dia, eu estava numa bienal e vi um feixe de luz iluminando uma mulher com um vestido verde. Achei isso a coisa mais incrível do mundo.

Você procurar trazer a emoção dos outros para a imagem?
Na verdade, é a minha emoção, porque como a fotografia congela um milésimo de segundo, ela não é a realidade, é apenas um recorte, o meu recorte. Por exemplo, uma vez eu tirei uma foto de uma mulher com uma cara de depressão num hotel nos Estados Unidos, mas aquilo ocorreu durante um milésimo de segundo, na verdade ela estava rindo e conversando. Era o meu olhar que estava mais melancólico. Se essa foto fosse tirada um milésimo antes ou depois, ela não teria esse olhar cabisbaixo. É diferente de eu sair na rua e fotografar as pessoas que já estão tristes.


Fulton, Illinois, Estados Unidos 2014

É sempre esse o seu processo de fotografar? Com que frequência você fotografa?
Eu fotografo todo dia em São Paulo. O ato de fotografar me fascina e me dá muito prazer. Ele me dá mais prazer que o resultado. É como se fosse um roubo. Sinto como se estivesse roubando aquela imagem. Tenho dificuldade em definir um tema e trabalhar apenas com ele. Prefiro estar livre. Às vezes eu fotografo o mês inteiro e não sai nada que presta, mas essa liberdade presente no ato de fotografar já me deixa feliz.

homem em pé no balanço bem alto
Darjeling, India, 2012


Veja também:
Aráquem Alcântara: o fotógrafo da natureza
Paul Souders, um aventureiro da imagem
Caras Ionut e as fotografias surreais


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