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Medicina Integrativa

HPV: vacinar ou não?

Imunização contra o vírus é uma questão de saúde pública na luta contra o câncer de colo de útero, mas há famílias com acesso à rede privada que optam apenas por acompanhamento médico
Bruno Torres
27/09/19

A vacina contra o papiloma vírus humano (HPV) foi incluída em 2014 no Programa Nacional de Imunizações (PNI) para meninas entre 11 e 13 anos. Assim como antipoliomielite, a tríplice viral e outras imunopreveníveis consideradas obrigatórias, a anti-HPV deve constar como "aplicada" nas cadernetas de vacinação das garotas acima dessa faixa etária.

Algumas mães têm dúvidas sobre o programa. Elas não sabem se devem ou não levar suas filhas para receber a imunização. A vacina, no entanto, não é obrigatória, mas cada vez que a mãe apresentar a caderneta para a um médico ou em um posto de saúde, será lembrada de que não vacinou a pré-adolescente.

“É melhor vacinar ou não?”

A resposta para essa pergunta é complexa e, para ajudar as famílias, o Portal NAMU fez um levantamento de dados. Em tempo: o HPV é a principal infecção viral transmitida pelo sexo em todo o mundo.

O Ministério da Saúde comemora o sucesso da campanha, que até dia 21 de março de 2014 já havia vacinado um milhão de meninas em todo o Brasil.

“Essa estratégia contra o vírus HPV é uma das mais importantes medidas de saúde pública desde o começo do milênio”, acredita o infectologista e especialista em pesquisa clínica da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Alexandre Naime Barbosa. A defesa é seguida por dados: o vírus HPV é o principal responsável pelo câncer de colo de útero, doença que mata cerca de 5 mil mulheres por ano no Brasil.

Mesmo sem a vacinação, essas mortes poderiam ser evitadas – o exame papanicolau consegue identificar o câncer em estágio passível de cura e esse é um problema de saúde que demora para se desenvolver. O problema é que muitas mulheres não têm acesso a um atendimento adequado no SUS. A maioria enfrenta dificuldades para marcar consultas com seus ginecologistas e para fazer cirurgias.

A orientação do Ministério da Saúde é de que o papanicolau seja feito anualmente a partir dos 25 anos. O órgão, no entanto, relata que atualmente a vida sexual das meninas está se iniciando em torno dos 13 anos, em média. Isso produz uma janela de 12 anos na qual não é feito o acompanhamento do exame ginecológico nesse período, o que deixa as pré-adolescente expostas ao risco de infecção pelo HPV.

Uma visão crítica da vacina

No consultório da ginecologista Mônica de Ávila Rinaldi, que atende em São Paulo, revelam-se algumas das questões sensíveis relacionadas à vacinação. “A política pública tem visão estatística e é voltada para a massa, precisa atingir uma população muito ampla”, pondera ela. “São milhões de mulheres para serem atendidas e a saúde pública não dá conta disso com precisão, por isso a campanha é tão positiva.”

Ela não recomenda a vacinação para as mulheres que passam por seu consultório particular. “Vacinadas, as adolescentes vão pensar que estão seguras, o que não é verdade, porque há a gravidez,o HIV e outras doenças venéreas”, argumenta. “Se elas têm um acompanhamento preventivo correto dos possíveis efeitos colaterais causados pela vacina anti-HPV, por que expô-las a esse risco?”, afirma Rinaldi.

Efeitos colaterais da vacina anti-HPV

Os efeitos negativos da vacina, não comprovados e relatados fora do Brasil, relacionam a dose como possível causa de falência ovariana, uveítes, convulsões, desmaios e a síndrome de Guillain-Barré - síndrome no sistema nervoso, cuja causa já foi associada à vacinação contra gripe e meningite. Também sem confirmação de causa, houve relatos de paralisias e mortes na Espanha, Estados Unidos e Japão, país que cancelou a recomendação da vacina na rede pública.

Apesar da falta de evidências a respeito dos efeitos colaterais, a vacina contra o HPV tornou-se disponível ao público em 2006 e o intervalo de oito anos é pequeno para avaliar com precisão os resultados, especialmente se tratando de um vírus que pode ficar incubado por décadas sem jamais se manifestar. É nesse cenário que surge toda a polêmica em torno da vacinação. A segurança da vacina foi testada pelo fabricante e confirmada pelo órgão responsável dos Estados Unidos (Centers for Desease Control - CDC) que notifica efeitos adversos em 1 a cada 30 mil usuários.

Menina

Recomendação da Organização Mundial de Saúde

A vacinação contra HPV é recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e aprovada por três sociedades médicas (pediatria, ginecologia e de imunização) e pela federação das sociedades de ginecologia e obstetrícia. Além, é claro, do Ministério da Saúde, que em março de 2014 a incluiu oficialmente no calendário de imunizações.

“Vacinamos contra o HPV há cinco anos e nunca houve um caso digno de nota. A única reclamação que já tivemos foi a respeito da dor no local da picada, mas nada que necessitasse de intervenção”, afirma o infectologista e patologista Sérgio Malaman, há 39 anos sócio-gerente da Imune, referência entre as clínicas particulares de São Paulo especializadas em vacinação.

“A vacina ofertada na rede pública é exatamente a mesma disponibilizada na rede privada (nome comercial Gardasil, da fabricante Merck)”, assegura ao Portal NAMU a bióloga e doutora em bioquímica Luisa Lina Villa, pioneira na pesquisa sobre o papilomavírus no Brasil e chefe do setor de virologia do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, em São Paulo.

Papanicolau é essencial

A vacinação contra HPV não exclui a necessidade do exame papanicolau anual para identificar lesões precoces. Ela não protege contra o câncer de colo de útero, mas reduz a probabilidade de contrair o vírus que potencialmente predispõe à doença. Malaman diz ainda que há casos em que esse câncer ocorre em mulheres sem HPV, mas a maioria absoluta de ocorrências acontece em pacientes com o HPV positivo. “Geralmente decorrem anos entre a infecção até o aparecimento do câncer, por isso as evidências dos benefícios da vacina não são imediatas. É um trabalho em longo prazo.”

Entenda

  • A meta do Ministério da Saúde é prevenir o câncer de colo de útero em 80% das 5,2 milhões de meninas que formam o público-alvo da campanha.
  • Todos os estudos, de acordo com o Ministério da Saúde, mostram que os benefícios da vacinação (produção de anticorpos) são maiores na faixa entre 9 e 13 anos.
  • Em 2015 a imunização atingirá meninas de 9 e 11 anos e, em 2016, as de 9 anos. Imunizadas antes de terem o primeiro contato sexual, as garotas evitam infectar garotos e serem infectadas.
  • O HPV (é adquirido apenas em relação sexual ou contato íntimo em que haja troca de secreção e microfissuras (por onde os vírus “entram” no corpo). “Não se pega usando biquíni molhado de alguém, por exemplo. A transmissão é igual à que ocorre no HIV”, afirma a ginecologista Mônica de Ávila Rinaldi.
  • O oncologista Drauzio Varella ressalta que o vírus HPV é o mais comum dos processos infecciosos sexualmente transmissíveis: mais de 80% dos homens e mulheres serão infectados no decorrer da vida.
  • Cerca de 30% das mulheres adquirem o vírus no ano seguinte à iniciação sexual, segundo Varella. O câncer de colo de útero tem a terceira maior taxa de incidência entre os cânceres que atingem as mulheres, atrás apenas do câncer de mama e do câncer de cólon e reto. O médico também não recomenda a vacinação em grávidas.

Três doses

A imunização é feita em três doses, sendo a segunda e terceira aplicadas respectivamente em 6 meses e 5 anos após a primeira. Em clínicas particulares os intervalos diferem (três doses em zero, 60 e 180 dias). A opção pela dosagem mais espaçada é recomendada pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e atualmente é adotada pelo Canadá, Suíça, México e Colômbia, segundo o Ministério da Saúde.

Menina tocando guitarra

Ainda que a pessoa já tenha sido infectada pelo HPV e não saiba, a vacina não oferece contraindicação. E as meninas estarão livres de outros tipos do vírus – isto porque há diversos subtipos de HPV. A vacina atua nos quatro mais agressivos, responsáveis por 70% dos casos de câncer de útero e 90% das verrugas genitais (em homens e mulheres).

Para meninos

“A vacinação de meninos é desejável e começa a ocorrer em outros países, mas ainda não é recomendada por nosso Programa Nacional de Imunização (PNI)”, informa Luisa Villa, que aprova a vacinação em meninos entre 9 e 26 anos em clínicas particulares enquanto não houver a oferta pública. A grande barreira é o custo, o que em cinco anos deve mudar. O Instituto Butantan ligado ao governo, ganhou o processo de transferência de tecnologia e a previsão é que em cerca de cinco anos disponibilize as primeiras vacinas. O Ministério da Saúde informa que cada dose custa para o governo R$ 30. Em tempo: na rede privada cobram-se mais de R$ 350.

O HPV me pegou

A paulistana Luana A., 33 anos, descobriu aos 26 anos que tinha HPV e uma grave infecção. Leia seu depoimento para o Portal NAMU:

“Foi um susto duplo. Eu nem sabia que tinha o vírus e, de repente, corria risco de morte. Como era interno, sem verruga, não percebi nada de diferente. Eu não tinha nenhuma dor, nenhum sintoma. Foi o papanicolau anual que apontou o problema: eu tinha lesões de grau 1 e 2; o grau 3 é o câncer. Meu ginecologista viu o exame, explicou o que eu tinha e me encaminhou para um especialista de HPV. Foi muito difícil. Já saí do ginecologista chorando e ao chegar em casa fui pesquisar na internet. Foi horrível, vi fotos assustadoras. É muito complicado você saber que tem uma doença que não tem cura - o vírus está incubado e pode se manifestar a qualquer momento. Eu sou a favor dessa vacinação. Mesmo sabendo que ela não preserva as pessoas de todo os tipos de HPV, apenas os mais agressivos, se eu tivesse uma filha nessa idade certamente a levaria.”

Minha filha está vacinada

Cada família elege uma convicção. Eu, Roberta Akan, jornalista e mãe de uma adolescente, optei por vacinar. Se vacinei-a contra meningite, catapora, hepatite, por que não contra HPV?

Fora o risco de câncer de colo de útero, verrugas não são bem-vindas em nenhuma parte do corpo, mas em algumas partes devem ser ainda piores. Como na época (ano passado) minha filha já tinha 15 anos, pagamos R$ 390 por cada uma das três doses do tipo quadrivalente.

Lívia, minha filha, sabe que a vacina não a protege de outras doenças, tampouco de gravidez indesejada, portanto tem consciência de que o preservativo é fundamental. Sabemos que o Papanicolau é obrigatório para identificar também outras doenças, portanto assim que iniciar a vida sexual ela fará o exame anualmente.

Perguntei a ela por que estava decidida a tomar a vacina e Lívia foi enfática: “Porque eu não quero ter câncer, mãe.” Simples e convincente.

Fotos: Divulgação Ministério da Saúde


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