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Esportes

A Copa do Mundo dos direitos humanos

Brasil não chegaria à final em torneio que dá pontos para países por critérios de justiça social
Bruno Torres
16/01/15

Qual a chance de o Brasil ganhar uma Copa do Mundo na qual habilidade no futebol fosse substituída pelo respeito de cada país à justiça e à liberdade? Um jogo lançado por um grupo de estudiosos e ativistas de direitos humanos de São Paulo mostra que, nesse campeonato, uma vitória do Brasil seria zebra.

O torneio vem no livro Guia da Copa do Mundo de Direitos Humanos (1), com lançamento previsto para junho em São Paulo. No jogo, o placar de cada partida da copa não é definido por bolas que entram na meta. O leitor é convidado a atribuir os pontos de cada seleção nos enfrentamento, imaginando qual seria o saldo de gols se os critérios para a vitória fossem o respeito ao meio ambiente, minorias, diversidade étnica e sexual.

As partidas estão organizadas de forma idêntica à da Copa do Mundo Fifa. Depois dos 48 jogos da primeira fase, metade das seleções avança para as oitavas de final, quando começa o "mata-mata". O jogador pode usar as informações sobre o respeito aos direitos humanos em cada país. Os dados foram coletados por instituições como a Organização das Nações Unidas (2), Anistia Internacional (3) e Repórteres sem Fronteiras (4), entre outras.

"Não existe um placar pré-definido ou ‘correto’ para cada jogo. É o leitor quem vai avaliar cada índice, fazer as comparações e dar o seu saldo de gols em cada confronto", explica um dos organizadores do guia, Davi Blotta, professor da Escola de Comunicações e Artes e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência  (NEV) (5), ambas instituições da Universidade de São Paulo.

O Guia recebeu colaborações do Centro de Estados Latino-Americano sobre Cultura e Comunicação (Celacc) (6) e o Coletivo Quilombação (7), além de ter apoio da Associação Nacional de Direitos Humanos, Pesquisa e Pós Graduação (Andhep) (8) e do NEV.

Brasil perderia primeiro jogo

Se o Brasil é franco favorito no jogo de abertura contra a Croácia, o país europeu ganharia de lavada na Copa dos Direitos Humanos. “A Croácia tem 20 vezes menos homicídios, aproximadamente metade dos índices de desigualdade social e metade das emissões de gás carbônico do Brasil", avalia Blotta com os dados do Guia em mãos. “Os índices só são parecidos no quesito respeito às minorias".

O Brasil dificilmente chegaria a uma final nessa copa: "Somos um país mediano no respeito a direitos econômicos e sociais, ruins em direitos ambientais", relata Blotta. “Nossos únicos índices elevados etão no respeito à diversidade. ”

Caso a seleção canarinho chegasse numa final contra a Argentina, provavelmente veríamos o time de Messi levantar a taça em pleno Maracanã. “Seria uma disputa boa de assistir, mas pesaria em favor dos argentinos a taxa de homicídio muito menor”, argumenta o pesquisador. “Também contaria ‘gols’ a posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH): a Argentina é a 45ª, e o Brasil está na 85ª posição" (9).

Já o jogo entre Espanha e Holanda seria um “páreo duríssimo”, segundo Blotta. “A Holanda está um pouco à frente nos direitos econômicos e sociais, mas a Espanha compensa nos direitos civis e políticos. ” Os dois times se enfrentaram a final da Copa da África do Sul em 2010, quando a Espanha levou a melhor. A partida se repetirá no dia 13 de junho.   

Aproveitando o momento

A ideia para o Guia surgiu no primeiro semestre de 2013, quando o secretário-geral da Fifa Jérôme Valcke disse em uma coletiva de imprensa que menos democracia é melhor para se organizar uma Copa do Mundo.

“Queremos demonstrar que Copa do Mundo jamais deve ser um motivo para passar por cima da liberdade do povo e da garantia dos direitos humanos”, afirma Dennis de Oliveira, professor da ECA e coordenador político do Coletivo Quilombação, que luta contra o racismo.  

Para os autores da cartilha, os organizadores da copa no Brasil demonstraram-se negligentes no combate a violações de direitos, como nos casos de remoção forçada de moradores de comunidades. "A sociedade civil brasileira tem demonstrado que está aproveitando esse momento para colocar em pauta várias questões relacionadas a direitos básicos”, afirma Blotta. “Nosso material faz parte disso."

O Guia da Copa do Mundo de Direitos Humanos não será vendido e ganhará uma versão on-line (1).

Lançamento

Dia 4 de junho, às 19h, no Auditório da Fundação Nacional das Artes. 

Alameda Nothmann, 1058, Santa Cecília, São Paulo.

Informações: (11) 3091-4327 ou (11) 9-9965-0004, com Dennis.

Debate sobre racismo no futebol com a participação de Dennis de Oliveira, Davi Blotta e Karl Pinheiro, ativista da União de Negros pela Igualdade (Unegro) (10). 


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