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Santo Agostinho

O que é

A filosofia de Santo Agostinho está muita vinculada à teologia. Para ele, o problema do conhecimento consiste na compreensão adequada e no Deus cristão.
Em sua obra encontramos uma formulação filosófica que une as verdades do mundo sensível às verdades da razão por meio da graça divina. A alma humana é o vínculo entre Deus e o homem, criador e criatura.
A relação entre fé e razão permeia a concepção agostiniana de mundo exterior e mundo interior. A natureza humana espelha essa essência divina, em que o homem deve procurar nas ideias a essência de todo o mundo conhecível, adquirindo assim um conhecimento adequado à realidade.
O coroamento da filosofia de Agostinho está em sua teoria do tempo e da linguagem. Enquanto a última se dá pela repartição entre palavra e coisa, entre o mundo da fala e o mundo das essências últimas, também encontramos a divisão entre os conceitos de tempo como expressão da noção de eternidade. Para ele, as palavras giram em falso sobre elas mesmas, são inferiores à realidade e seu princípio básico é o engano. Em razão disso, Agostinho buscava uma linguagem absoluta, baseada na ação, na arte e no pensamento, e capaz de enunciar as verdades divinas.

Origem do nome

Aurélio Agostinho (em latim: Aurelius Augustinus), dito de Hipona, conhecido pela posteridade como Santo Agostinho (Tagaste, 13 de novembro de 354-Hipona, 28 de agosto de 430).

Criação

A filosofia de Santo Agostinho procura conciliar filosofia e teologia. Fé e razão são complementares, unindo o mundo suprassensível divino ao mundo humano em corpo e alma.

Os conhecimentos sensível e racional só podem ter um bom caminho quando são iluminados por Deus. É nesse contexto que se pode pensar a noção de criação, em que a realidade temporal adquire um significado frente à eternidade.

O homem, como a mais perfeita das substâncias finitas, é agraciado em inteligência e vontade. Diante disso, surge a iminência do mal, como carência do saber infinito. Assim, a ideia de uma ética toma por base a busca de uma felicidade transcendente, por meio da virtude.

A teoria ética e política de Santo Agostinho almeja apontar os desígnios da cidade de Deus, pertencente à verdadeira igreja, na medida em que ela ilumina a cidade dos homens, em sua legislação imanente ao mundo e carente de uma outra sabedoria.

Um dos grandes legados da filosofia agostiniana está na linguagem. Na busca pela forma adequada de comunicação entre os homens e Deus, compreendemos a importante distinção entre a palavra e o signo, o que levou a consequências profundas na história da filosofia.

Histórico

Uma biografia hedonista: até os seus 15 anos de vida, Agostinho mostrou uma biografia afetiva conturbada. Por volta de 370, abandona os amores mundanos pelo conhecimento literário e filosófico, demarcando o momento da entrega à fé e à filosofia.

A revelação cristã: é no contexto da Itália e de seus arredores no século 4 que Agostinho encontra a transformação radical da interioridade: converte-se definitivamente ao catolicismo e passa a tratar dos temas da fé como obstinação pessoal. Torna-se, assim, um expoente do pensamento romano.

Legado — tempo e linguagem: após a consolidação de sua filosofia como confissão biográfica e exercício intimista, deixa ecos para as pesquisas vindouras sobre a linguagem (como nos séculos 19 e 20) e também sobre o tempo, problemática que perdura até os dias atuais.

Atualidade

Sermões católicos: até hoje a Igreja Católica utiliza oficialmente os escritos de Santo Agostinho em seus sermões oficiais, o que é feito de diversas formas: em discursos, homílias ou carta apostólica; a palavra é transmitida também fazendo-se remissão aos escritos agostinianos.

Filosofia da religião: todos os estudiosos e praticantes da religiosidade, sobretudo a cristã, perduram nos estudos de Santo Agostinho, com destaque àqueles que se dirigem à compreensão ética do mundo procurando novos ou sentidos ocultos da relação entre as noções de vontade, felicidade, arrependimento, memória, entre outras.

Fundamentos

Tipos de conhecimento: Embora não encontramos uma teoria formulada sobre o tema, a ideia do conhecimento da verdade pode ser vista pelo ideal cristão da busca de Cristo e da sabedoria. Embora Agostinho tenha flertado com o ceticismo, admitiu a certeza dogmática que a mente tem de si mesma como existente. Ainda que o homem se equivoque em todos os juízos, ele assenta a validez de todo conhecer em seu interior.

Não se pode duvidar da certeza dos princípios do entendimento, como o princípio de não contradição, tampouco da certeza das verdades matemáticas e da realidade exterior. A mente, buscando a verdade em si mesma, encontrará uma transcendência ao encontrar as Ideias, as verdades imutáveis que não podem proceder da experiência.

Agostinho distingue os vários tipos de conhecimento:

1) o conhecimento sensível – o grau mais baixo do conhecimento, pelos sentidos daquilo que é mutável;

2) o conhecimento racional – daquilo que é verdadeiro e imutável, e que pode ser distinguido, por sua vez, em outros dois tipos:

2.1) Inferior – aquele que se dirige ao conhecimento do que há de universal na realidade temporal, sendo o conhecimento que podemos chamar das ciências (como os conhecimentos matemáticos); no conhecimento inferior ainda há um contato com a realidade sensível e a origem dos conhecimentos universais;

2.2) Superior – a sabedoria, o autêntico conhecimento filosófico: é o conhecimento das verdades universais e necessárias das Ideias, as formas arquetípicas ou essenciais e permanentes, imutáveis das coisas, que existem eternamente e imutáveis, contidas na inteligência divina.

O conhecimento de Deus: para captar as verdades eternas, universais e necessárias, nossa inteligência, nossa alma, tem de ser iluminada por Deus (teoria da iluminação). A filosofia agostiniana é uma teologia, sendo Deus não só a verdade que aspira ao conhecimento, mas também o fim da vida humana.

Essa luz divina é alcançada mediante uma iluminação que Deus concede à alma humana, na atividade interior da razão. Nela a alma se torna capaz de alcançar por si mesma as verdades eternas e as demais realidades. É a existência de Deus que dá a vivência do homem. Agostinho preocupa-se mais com a questão da essência de Deus, ou de sua substância, que se identifica à absoluta imutabilidade imprescindível do ser.

O Deus agostiniano é cristão, é único, simples, perfeito, subsistente, luz inteligível da verdade essencial, fundindo todos os seres conhecíveis em sua verdade como resultado de sua criação. Deus é o modelo arquetípico das demais substâncias finitas, que, no limite do conhecimento de cada uma, voltam-se para a perfeição divina como transcendência.

Não encontramos uma prova sistemática da existência de Deus, problema premente para toda filosofia medieval. No entanto, encontramos alguns argumentos agostinianos, a saber, o principal deles: a prova poética das verdades eternas e imutáveis. Além disso, podemos destacar a evidência psicológica e moral do encontro de Deus com o interior da alma; a prova da ordem e da contingência do mundo; bem como a prova do consentimento universal dos homens.

A criação e a alma: a teoria da criação faz parte do escopo de Agostinho, como resultado de um ato livre de Deus, a partir do nada (ideia estranha ao mundo grego). Todos os seres criados resultam dos materiais que compõem a matéria e a forma, como se na matéria de cada indivíduo já estivesse contidas as sementes da forma imutável divina.

No ato da criação, alguns seres existem em ato e outros em potência. As razões dessa criação são estranhas ao intelecto finito humano, que não pode compreender como o mundo foi criado como um único ato. E dado que Deus é perfeito, tudo o que dele resulta é bom.

Deus é o verbo da eternidade, em que a história temporal do mundo representa as potencialidades divinas na matéria, em uma narração alegórica, como a narrativa bíblica do Livro Gênesis, contando a história dessa ação formativa.

A origem da alma compreende a transmissão do pecado original – o pecado de Adão, ao colocar todos os homens no estado pecaminoso. Haveria, como argumento sugerido, um “traducionismo geracional”, em que a alma, assim como o corpo, é transmitida de geração em geração.

Inicialmente, Agostinho não teria concluído esta questão, deixando margem para se pensar um criacionismo traducionista em sua obra: Deus cria a alma de cada homem de maneira individual, mas não o faz ex nihilo (quer dizer, apenas a partir do nada), senão a partir da alma de Adão, com a qual se explica por que herdamos o seu pecado.

O homem: de todas as substâncias finitas, as mais perfeitas são os anjos. Depois deles estão os homens, compostos de alma e corpo. A concepção agostiniana compreende um dualismo: o homem consta de substâncias distintas, cada uma delas completa e independente, a alma e o corpo, sendo a primeira superior em dignidade, e o ser ao segundo, o que implica também dois tipos de conhecimento:

1) o sensitivo, que permite o conhecimento para a vida prática;

2) o conhecimento intelectual, que permite o conhecimento elevado pela razão da essência das coisas.

A alma humana anima o corpo, que está unido por inclinação natural, vivificando-o. A alma não é uma parte de Deus, mas a sua imagem, com suas três faculdades principais: memória, inteligência e vontade, as mesmas da Trindade. Com isso, recusa a tese platônica da preexistência da alma, para pensá-la nesse traducionismo.

O problema do mal: assemelha-se às aporias de uma teodiceia, da justificação da existência divina. Se Deus é infinitamente bom, justo e onisciente, como é possível que no mundo exista a enfermidade, a injustiça e a miséria?

A estratégia de resposta tem inspiração plotiniana, em que o mal existente no mundo (o mal físico ou moral) não é tido como uma entidade. Ou seja, o mal não é uma ontologia positiva, mas uma privação, uma carência de um bem.

Este é o modo em que Deus deixa de ser o responsável pelo mal, que passa a ser o homem, enquanto ele é livre. Todos os elementos negativos são produtos da vontade humana, que tende a apartar-se do bem, do ser e da verdade. Ou seja, apartar-se de Deus.

Fé e razão: Agostinho é um dos autores que tratam da relação entre os desígnios da teologia e da filosofia. Assim, em sua filosofia a fé dá lugar à religião e a razão, à filosofia, enquanto não pode haver uma oposição entre ambas.

A fé é uma graça de Deus e que, junto à Sagrada Escritura, forma a palavra divina, infalível e invariável. A fé não é algo irracional, pois é guia da investigação e a protege frente ao erro. Por sua parte, a razão e a filosofia (a palavra humana), ainda que limitadas e frágeis, são boas porque podem favorecer a religião: permitem a compreensão intelectual, mesmo que imperfeita, das verdades religiosas. Portanto, fé e razão são complementares: é preciso crer para entender, e entender para crer.

Ética e política: a ética agostiniana é inspirada diretamente pelos ideais morais do cristianismo. Aceita os motivos precedentes do platonismo e do estoicismo que encontramos em outros aspectos de seu pensamento. Compartilha com ambos a ideia de que a busca da felicidade é o fim último da conduta humana, inalcançável nesta vida, dado o caráter transcendente da natureza humana, dotada de uma alma imortal.

A ideia de Deus como o Bem, nesta visão beatificadora de Deus, requer a graça divina para alcançar a salvação por meio da virtude, que, como apontamos acima, implica iluminar o conhecimento para se afastar do mal.

Do ponto de vista da sociedade e da política, Agostinho expõe as suas reflexões na Cidade de Deus (411-426), defendendo a submissão do poder político ao religioso – algo que de fato ocorreu na chamada Alta Idade Média.

Na história das lutas das cidades, a sociedade é vista como organização necessária ao indivíduo, porém não um bem perfeito: suas instituições, como a família, derivam da natureza humana, seguindo a teoria da associação natural de Aristóteles, em que o poder dos governantes procede diretamente de Deus.

O problema da moral: a felicidade, como fim último da existência humana, compreende para Agostinho o amor a Deus que se estende ao próximo. Deus propiciou ao homem a faculdade de captar as leis eternas da moralidade, que estão impressas no coração de cada homem.

A virtude e a prática cristãs dividem os homens em dois tipos: 1) os que amam a Deus, submetendo-se à palavra e que buscam a paz eterna – nomeados como os existentes na Cidade de Deus, a igreja (Jerusalém); 2) aqueles que almejam os bens materiais, perecíveis, e que preferem a si mesmos antes dele próprio – residentes da cidade temporal e terrena, o Estado pagão (Babilônia). Agostinho crê que na história ambas coexistem, e só no juízo final são enfrentadas, separando-se definitivamente, e que esta última deve se submeter à primeira.

O problema da linguagem: Agostinho é uma fonte importante para a discussão sobre o problema da linguagem. Com ele compreendemos que a palavra passa a ser uma portadora de sentido, porém de modo incompleto.

A palavra é tida como um signo de uma coisa, isto é, que ela não substitui a própria coisa, mas que estabelece com ela uma relação de indicação. Por exemplo, a fumaça como signo do fogo: ela não é fogo em si, mas apenas implica, indica o fogo.

Como signo, portanto, a palavra é apenas indicativa de uma coisa, sugerindo que há uma essência que a transcende. No De Magistro, por exemplo, Agostinho aponta como nada se ensina sem os signos, porém, que os signos nada ensinam. Há um fracasso da exterioridade ao tentar explicar, por meio das palavras, a interioridade essencial das coisas.

Na prática

A filosofia agostiniana é antes de tudo uma compreensão profunda da interioridade do homem:

1) Exercício da fé – A expressão prática está na reclusão espiritual, e na capacidade de assimilar os conteúdos da fé. No sentido clássico da religiosidade, tem um caráter eremita, em que os desígnios da vontade e do conhecimento se voltam para as sagradas escrituras.

2) O estudo da linguagem – A filosofia teológica de Agostinho permite um estudo interessante do domínio da linguagem, por exemplo, na distinção entre a compreensão literal das escrituras e o domínio alegórico que as compõe. É comum que estudiosos da linguística e da filosofia da linguagem se debrucem nos ensinamentos e nos exercícios de compreensão desse tema pela via agostiniana.

Principais nomes

Santo Agostinho (354 – 430)

Filósofo, teólogo e bispo pela Igreja Católica. Romano de origem africana e de uma família modesta. Seu pai, Patricio, era pagão, e sua mãe, Monica, cristã. Viveu uma juventude atormentada pela paixão às mulheres, até que aos 15 anos descobre o amor à literatura, ao teatro e à inquietude metafísica.

Recebeu uma educação intelectual sólida, tanto em sua cidade natal, Tagaste, quanto em Madauro, com vistas a se tornar advogado. No entanto, tornou-se professor, quando fundou uma escola de retórica em sua cidade.

Na filosofia, admira Cícero, e depois se converte ao maniqueísmo, ao gnosticismo e mesmo ao ceticismo. Em suas aulas, ensina a visão dualista do mundo, no conflito entre o bem e o mal, e no domínio da moral a ascese, quando lecionou em Cartago (374-383) e Roma (383).

Ambrósio

Quando chega em Milão (384), Agostinho que recebe a influência do teólogo Ambrósio, que o faz descobrir o neoplatonismo, sobretudo com Plotino, modificando a sua concepção sobre a essência divina e sobre a natureza do mal, com a ideia de que Deus é luz, substância espiritual de que tudo depende, e ao mesmo tempo de nada depende.

É no jardim de Milão que lhe vem a revelação, interpretada como uma luz divina, um convite eclesiástico para a vida monástica. É a partir desse momento que a atividade exercida por Agostinho confunde-se com a própria vida, com esta convicção de ter recebido um sinal divino, decidindo retirar-se com sua mãe, seu filho e seus discípulos à casa de seu amigo Verecundo, em Lombardia, onde escreveu suas primeiras obras.

Batismo

Em 387 se fez batizar por Santo Ambrósio, convertendo-se definitivamente. Após a morte de sua esposa, em 388, regressou em definitivo à África. Em 391 foi ordenado sacerdote em Hipona, cumprindo sua missão de predicar as palavras de Deus, no combate às heresias e às cismas, mantendo suas controvérsias teóricas com os maniqueos, pelagianos, donatistas e pagãos.

Em 395, após a morte de Valerio, exerceu o ofício de pastor, administrador, orador e juiz. E em 410, após Roma cair nas mãos dos godos de Alarico, proferiu um discurso veemente contra os cristãos, cuja resposta está formulada na Cidade de Deus, escrita nesse período, com uma verdadeira filosofia cristã.

Passou os últimos anos de sua vida assistindo às invasões bárbaras do norte da África, iniciadas em 429, à qual não escapou sua cidade episcopal. Ao terceiro mês do assédio de Hipona, caiu enfermo e morreu.

Gregos

A filosofia agostiniana é essencialmente espiritualista frente a tendência cosmológica grega. As Confissões (400) representam esse diálogo intenso entre criador e criatura. Agostinho buscou por uma filosofia que desse conta de tratar da relação entre o finito e o infinito, através de um tipo de idealismo com traços platônicos.

Sua visão pessimista do homem contribuiu para reforçar a ideia de que a liberdade humana deve procurar pela salvação da alma. Os grandes temas agostinianos – conhecimento, amor, memória, presença e sabedoria – dominaram a teologia cristã até a escolástica tomista. Lutero a recuperou, transformando a visão pessimista do homem pecador, que inspirou os jansenistas.

Outras visões

Platonismo: Agostinho foi um grande intérprete da filosofia de Platão, modulando-a para a teologia. É dessa forma que as teorias das formas e das ideias de Platão adquirem um novo significado religioso no cristianismo.

Confluências com São Tomás de Aquino: dois expoentes do pensamento cristão após a filosofia grega clássica são os principais representantes da formulação de que o homem está unido a Deus em corpo e alma, em matéria e forma.

Ramificações

O agostinismo pode ser visto em algumas tendências:

Os teólogos sobre a graça

Tipo de concepção da influência do pensamento de Agostinho que remonta a Egidio Romano (1243-1316) e que abarca pensadores entre os séculos 13 e 15. Seus principais representantes são Gregório de Rímini (1300-1358), o cardeal Girolamo Seripando (1493-1563), o poeta e teólogo Fray Luis de León (1527-1591), o cardeal Enrico Noris (1631-1704) e Lorenzo Berti (1696-1766), buscando por uma genuína interpretação da doutrina de Santo Agostinho sobre a graça, em que a noção de bem-aventurança eterna parece ser mais um ato de vontade do que de inteligência, adquirindo uma feição eminentemente moral.

A teologia da soberania divina

Teólogos que veem na predestinação dos eleitos um ato absolutamente gratuito, a partir do qual se produzem as obras humanas (ante praevisa merita). Munidos da influência de Agostinho, combatem o pelagianismo, o ockamismo e o molinismo. Figuram nomes como Simão de Cascia (+1348), Hugolino de Orvieto (1380- 1457), Hermann de Schildesche (+1357), Erfurt Johannes de Dorsten (1420-1481), Johannes Raulk-Pfalz (1543-1592) e Bartolomé de Urbino (+ 1350).

Principais obras

As Confissões (396-397) 

Principal obra, dividida em 13 livros. Trata das histórias da interioridade de Santo Agostinho, dos dilemas de seu coração e de suas retratações. É o genuíno sentido religioso do confessor, como aquele que louva a Deus pelos seus feitos. Não são um mero reconhecimento dos pecados, nem uma declaração, em muitas análises penetrantes da alma, em uma sensação comunicativa, a elevação do sentimento e a profundidade das visões filosóficas.

Ao longo dos capítulos, Agostinho narra a sua adolescência e juventude, sua carreira acadêmica, sua estância no maniqueísmo, seu processo pessoal de intimidade com o cristianismo, sua conversão e suas impressões primordiais como católico. Nos livros finais, encontramos os temas filosóficos mais espinhosos, como o problema do tempo e da linguagem.

A Cidade de Deus (411-426)

É a obra que exprime seus escritos sobre ética e política. Escrita durante o período em que Agostinho experimenta a queda de Roma, sob a autoridade de Alarico, mirando o desmembramento do império romano.

Encontramos um sistema de classificação das sociedades, ao mesmo tempo em que apresenta as bases da filosofia medieval. Dois aspectos costuram esta obra, a saber: 1) a revelação cristã, e 2) o saque sofrido pela cidade de Roma em 410 pelas tropas de Alarico.

Nesse contexto histórico e religioso, Agostinho propôs dividir as organizações humanas segundo a “cidade de Deus” (civitas Dei), dirigida pelo princípio do amor e formada pelas pessoas cuja vontade busca a Deus e suas leis; do outro lado, a “cidade do mundo” (civitas terrena), identificada pela religião e regida pelo amor de si mesmo, composta por pessoas que se distanciam de Deus, seguindo as leis terrenas, do corpo, que impelem ao egoísmo, ao domínio e submissão e ao hedonismo, assemelhando-se à lei do Estado, temporal (civil e laica).

No entanto, e esta é uma questão interessante de ser encarada nesta obra, vale a pena compreender em que medida fica sugerido existir uma teoria teocrática no pensamento de Agostinho, uma vez que a compreensão global implica dizer que ambas as cidades coexistem em qualquer sociedade, restando compreender como se dá a passagem de um domínio ao outro.

De Magistro (389)

É a principal obra de caráter pedagógico, apresentando uma conversação de Agostinho com seu filho Adeodato, então com 16 anos, sobre o tema da linguagem. Mestre e discípulo, ambos em plena vitalidade intelectual e cheios de entusiasmo, realizam no diálogo uma espécie de competição dialética com admirável profundidade filosófica: ao longo das perguntas e respostas sobre o falar, o ensinar ou o aprender, é colocado em questão as pretensões da linguagem.

No jogo entre palavra e signo, entre a temporalidade humana da comunicação pela fala e a eternidade do significado daquilo que ela almeja expressa, encontramos no De Magistro uma importante contribuição para os estudos da filosofia da linguagem, influenciando não só toda a filosofia medieval, como também a filosofia moderna.

De Trinitate (399-422)

Até os dias de hoje, trata-se de uma das principais obras que fundamenta a crença na Santíssima Trindade de Deus. Como um monumento, herda três aspectos substanciais e que embasam os fundamentos encontrados neste livro: 1) Ao buscar o problema da trindade, sobre como Agostinho herda o problema da eudaimonia da filosofia grega e o repensa à luz da perspectiva cristã; 2) Sobre como, na trindade, considera-se o problema da singularidade da divindade – do Pai, Filho e Espírito Santo em regime de simultaneidade; 3) A terceira parte trata da vida de Agostinho no momento da composição do De Trinitate, revelando como os traços de sua biografia estão a par do desenvolvimento desta obra.

Quem influenciou

Fontes e inspirações

Platão (428/427 a.C.-348/347 a.C.): Agostinho toma a divisão entre o mundo sensível e suprassensível da filosofia platônica para pensar as virtudes tradicionais dos gregos (saúde física, beleza, riqueza, prazeres), tidas como ilusão dos sentidos. No entanto, à concepção do mundo das ideias e ao mundo dos sentidos, Agostinho introduz o elemento da fé, em que o registro do mundo da sensibilidade pode estabelecer um tipo de comunicação com o mundo metafísico.

A relação entre razão e mundo natural é permeada pela fé, relação que guarda os maiores problemas tratados por sua filosofia, como o tempo e a linguagem, ambos responsáveis pela forma de vínculo entre o mundo humano e o mundo divino.

Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.): Para Aristóteles, o objetivo da ética é constituído pela noção de felicidade – como a vida boa, correspondendo à vida digna. Nessa direção, haveria uma subordinação da ética à política, em que os tratados éticos e os tratados sociais pertencem a um mesmo estudo, classificado como “política”.

A necessidade de introduzir a perspectiva cristã nessa relação entre felicidade e dignidade levou Agostinho a inverter esta subordinação, reinventando o legado da Ética a Nicômaco de Aristóteles, de modo que o agraciamento – a Graça – seria a noção responsável por dar um sentido extramundano aos saber prático da virtude.

O estoicismo: Na doutrina de Agostinho sobre as paixões da alma encontramos os elementos da ética e da lógica estoica, sobretudo do pensamento tardo-antigo representado por Sêneca e Cícero. São usados como elementos de aproximação da abordagem antropológica dos afetos e das paixões na natureza humana.

Um aspecto fundamental do estoicismo é a crença de que é impossível para o homem encontrar regras de conduta ou alcançar a felicidade sem se apoiar em uma concepção do universo que seja determinada pela razão ou logos. Inversamente, Agostinho enfatiza a função do livre-arbítrio e da graça de Deus como elementos preponderantes na capacidade humana de sobrepor-se às paixões e ordená-las para a razão.

Santo Agostinho é uma fonte primária na filosofia e muitos pensadores se depararam com seus escritos. Destacam-se alguns:

Dante Alighieri (1265-1321)

Escritor, poeta e político italiano. Considerado o primeiro e maior poeta da língua italiana, definido como il sommo poeta (o sumo poeta). Em um período em que somente os escritos em latim eram valorizados, redigiu o seu grande poema e obra, de viés épico e teológico, La Divina Commedia [A Divina Comédia].

Francesco Petrarca (1304-1374)

Intelectual, poeta e humanista italiano. Romanceiro, é considerado o grande inventor do soneto, tipo de poema composto de 14 versos. É conhecido por sua poesia italiana, principalmente o Canzoniere e o Trionfi [Triunfos].

Outras obras importantes: Secretum meum [Meu Livro Secreto] (1342-43), uma autobiografia que consiste em três diálogos entre Petrarca e Santo Agostinho na presença da Verdade. E De vita solitaria [Sobre a Vida Solitária] (1346), após ter efetuado um alargamento da obra de De viris illustribus a textos sagrados e seculares.

Tomás de Aquino OP (1225 – 1274)

Padre dominicano, filósofo, teólogo, distinto expoente da escolástica, proclamado santo e Doutor da Igreja cognominado Doctor communis ou Doctor angelicus pela Igreja Católica. É autor de um clássico da história da filosofia e da teologia, a Summa theologiae [A Suma Teológica] (1764), considerado um dos maiores tratados sobre a existência de Deus.

Santa Teresa de Ávila ou Teresa de Jesus (1515 – 1582)

Religiosa e escritora espanhola, famosa pela importante reforma que realizou na Ordem dos Carmelitas e pelas suas obras místicas. Foi proclamada Doutora da Igreja pelo Papa Paulo VI.

Martinho Lutero (1483 – 1546)

Sacerdote católico agostiniano e professor de teologia germânico. Foi figura central da Reforma Protestante, contestando a alegação de que a liberdade da punição de Deus sobre o pecado poderia ser comprada. Confrontou o vendedor de indulgências Johann Tetzel com suas 95 Teses em 1517.

Sua recusa em retirar seus escritos a pedido do Papa Leão X em 1520 e do Imperador Carlos V na Dieta de Worms em 1521 resultou em sua excomunhão pelo Papa e a condenação como um fora da lei pelo imperador do Sacro Império Romano Antigo.

Blaise Pascal (1623-1662)

Filósofo, físico, matemático e teólogo francês. Sua obra principal, publicada postumamente, é Os Pensamentos (1670), em que faz sua defesa da religião cristã, destinada a tocar os libertinos (pessoas que negam toda religião revelada, a qual se deve demonstrar) e os céticos (que colocam tudo em dúvida).

A presença do jansenismo aproxima Agostinho à ideia de que o homem não pode salvar a si próprio e que após o pecado original ele pode somente esperar a graça de Deus, prova da soberana liberdade divina.

Julien Green (1900 – 1998)

Escritor norte-americano de expressão francesa que escreveu livros religiosos de orientação católica. É autor de Adrienne Mesurat (1927), Moïra (1954) e sua obra notável Léviathan (The Dark Journey, 1929).

Interligações

Fontes de pesquisa

1. Quaestio XLVI, De ideis

2. Cf. Capítulo X das Confissões

3. Cf. Capítulo XI das Confissões

Biografías y vidas. Disponível em: <http://www.biografiasyvidas.com/biografia/a/agustin.htm>. Acesso em: 8 abr. 2014.

Encyclopédie de l’agora. Disponível em: <http://agora.qc.ca/dossiers/augustin>. Acesso em: 8 abr. 2014.

Filosofia.net. Disponível em: <http://www.filosofia.net/materiales/sofiafilia/hf/soff_em_1.html>. Acesso em: 8 abr. 2014.

L’express culture. Disponível em: <http://www.lexpress.fr/culture/livre/le-chemin-vers-la-foi-selon-saint-augustin_1049424.html>. Acesso em: 8 abr. 2014.

______________. Disponível em: <http://www.lexpress.fr/culture/livre/saint-augustin-notre-contemporain_1049856.html>. Acesso em: 8 abr. 2014.

_____________. Disponível em: <http://www.lexpress.fr/culture/livre/saint-augustin-et-toi-et-moi_1049423.html>. Acesso em: 8 abr. 2014.

Mercabá. Disponível em:<http://www.mercaba.org/Filosofia/Medieval/agustin_de_hipona_00.htm>. Acesso em: 8 abr. 2014.

_______. Disponível em: <http://mercaba.org/Mundi/1/agustinismo.htm>. Acesso em: 8 abr. 2014.

Revista Cult. Disponível em: <http://revistacult.uol.com.br/home/2010/12/o-tempo-espelho-da-alma/>. Acesso em: 8 abr. 2014.

Torre de babel ediciones. Disponível em: <http://www.e-torredebabel.com/Historia-de-la-filosofia/resumen/sanagustinbreve.htm>. Acesso em: 8 abr. 2014.

Sos philosophie. Disponível em: <http://sos.philosophie.free.fr/augustin.php>. Acesso em: 8 abr. 2014.

Webdianoia. Disponível em: <http://www.webdianoia.com/medieval/agustin/agustin_filo.htm>. Acesso em: 8 abr. 2014.

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