A filosofia hegeliana é antes de tudo uma crítica à filosofia transcendental de Immanuel Kant (1724-1804). Procura aliar ser e pensar em um movimento que é imanente à própria experiência.
A dialética hegeliana é a forma lógica para lidar com a identidade entre pensamento e realidade. Hegel procura o dinamismo dessa relação como movimento e não como uma identidade estática entre sujeito e objeto.
A ideia de movimento leva a filosofia a ser uma ciência da experiência da consciência. Ela é tida como um movimento do espírito (em alemão, Geist), que é também racional, e por isso, um conceito. A dialética é o movimento do conceito ou o percurso do espírito como saber absoluto.
A forma dialética permite ao pensamento elaborar a sucessão no tempo do espírito. Dela decorrem as teorias do Estado, como formação da instituição social no tempo. Ela também é a criado de uma teoria da história, capaz de pensar a própria filosofia inserida nesse percurso do tempo, e uma teoria importante sobre a religião, articulando fé e razão, finito e infinito. Para Hegel, na religião a vida finita ascende ao infinito.
A filosofia hegeliana organiza-se através da sistematização do saber absoluto. O sistema do pensamento de Hegel é elaborado nesse percurso do Espírito como devir da razão.
A produção filosófica de Hegel pode ser vista em um antes e um depois da publicação da Fenomenologia do Espírito (1807). É nesta obra que apresenta e introduz o sistema do saber absoluto.
Os textos que a precedem, como os escritos de Jena, compreendem a formulação e justificação da filosofia hegeliana como sistema. Os textos posteriores a ela desdobram e procuram amarrar o sistema lógico da dialética hegeliana, na articulação entre realidade e pensamento. E por fim, as publicações póstumas são os desenvolvimentos que especificam momentos desse saber absoluto: O Estado, a história, a religião e as artes.
Toda a produção hegeliana é a estruturação da imanência da própria experiência para a consciência. Os temas e os vários momentos do Espírito compreendem a identidade dinâmica entre a consciência e o mundo exterior e o saber que ela tem sobre esse processo e sobre si mesma.
É a ciência da experiência da consciência. A dialética é a forma lógica que desenvolve e expressa na temporalidade finita o infinito do Espírito.
Por isso se diz que a aceitação do pensamento hegeliano, em sua completude, exige compreender a necessidade de formular o sistema que dá conta de todos os aspectos de sua filosofia.
Contexto da Revolução Francesa: Hegel, assim como outros filósofos de sua época, como Friedrich Schiller (1759-1805), Johann Gottfried Von Herder (1744-1803), Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781) e Immanuel Kant (1724-1804), era um entusiasta liberal defensor da Revolução Francesa. Isso está presente em suas ideias sobre a liberdade e emancipação da consciência humana.
Após a filosofia kantiana inaugurar o idealismo transcendental, houve muita disputa no debate filosófico alemão. No início do século 19, três filósofos canalizaram o debate sobre a questão do absoluto ou da filosofia como um absoluto: Johann Fichte (1762-1814), Georg Wilhelm Hegel (1743-1819) e Friedrich Wilhelm Joseph Schelling (1775-1854).
Após grande sucesso na Alemanha das obras de Hegel, havia duas escolas bem demarcadas por volta dos anos 1820 e 1830: os velhos hegelianos, ou hegelianos de direita, que se encontravam mais próximos da oficialidade do Estado da Prússia, e os jovens hegelianos, ou hegelianos de esquerda, mais radicais em suas concepções sobre a política, a história e a arte.
O autor de O Capital foi profundamente influenciado pela dialética de Hegel. Ele transformou a dialética idealista hegeliana, que entendia a razão como determinante da realidade objetiva, na dialética marxista, a qual apontava exatamente para o contrário, ou seja, que a realidade material condiciona a ideia que fazemos dela.
Após o declínio do hegelianismo na Alemanha no século 19, a França foi uma importante receptora dessa tradição.
No século seguinte, o pensamento de Hegel voltou a ser pauta da filosofia, como instrumento para tratar de assuntos variados, como a questão do “desejo” na psicanálise, o problema da formação do Estado moderno e das conquistas de direitos.
Uma teoria do Estado moderno: A concepção hegeliana compreende o Estado como um processo de relações intersubjetivas formado por momentos ou estágios que o constituem como uma comunidade de vida racionalmente fundada. O Estado é pensado na relação conjunta entre sociedade civil e Estado, economia e política. É diferente da teoria liberal que tende a ver esse polos em uma divisão ontológica.
O problema do reconhecimento: A filosofia hegeliana propicia uma base de estudos sobre os problemas do reconhecimento no debate cultural. Um exemplo de trabalho nesse sentido é de Axel Honneth (nascido em 1949), atual diretor da Escola de Frankfurt. Honneth reivindica a noção hegeliana exposta nos escritos de Jena, não mais no marco de um racionalismo forte, mas como uma teoria da intersubjetividade, como um modelo possível para pensar a modernidade política e do debate contemporâneo.
Concepção de liberdade: Embora Hegel seja “mal afamado” no que diz respeito às liberdade individuais, propiciou uma concepção de liberdade que contribui até os dias de hoje para o problema das conquistas por direitos: a liberdade é concebida simultaneamente como um conjunto e como um processo de determinações da vontade. Permite, assim, pensar uma estrutura objetiva das determinações da liberdade, e como experiência progressiva da aquisição das determinações da consciência humana.
A filosofia hegeliana procura idéia diferente da “unidade sintética a priori” do idealismo transcendental. Kant havia diferenciado a aparência das coisas e as coisas em si mesmas; ou seja, entre fenômeno e coisa em si. Hegel modifica essa visão, porque considera que ela destrói a própria noção de experiência. Ao invés de adotar a crítica transcendental kantiana, elabora uma crítica imanente. Nela a realidade numenal (da coisa em si) deixa de ser um substrato desconhecido, como em Kant, e sim um processo ativo. O pensamento e a realidade agora estão fundidos.
Nesse processo, Hegel pretende uma explicação filosófica verdadeira da experiência, possível através do procedimento dialético que dá conta dessa relação entre pensamento e realidade. O desenvolvimento triádico de cada conceito e de cada coisa se dá num movimento em que: 1) tese: uma coisa em si mesma (An-sich); 2) antítese: conhece o exterior de si mesma (Anderssein); e 3) síntese: retorna e encontra a si mesma (An-und-fur-sich). Nesse processo dialético, a antítese opõe totalmente a tese, enquanto no terceiro passo, há um retorno ao primeiro momento de uma maneira enriquecida, com o acúmulo da experiência.
Por exemplo, se penso no problema da liberdade: 1) primeiro, penso a liberdade em um selvagem, a princípio, livre; 2) em um segundo momento, constata-se que o selvagem cedeu a sua liberdade ao seu oposto, à tirania e à civilização da lei.
E em um terceiro momento, o cidadão, sob o controle da lei, encontra-se no estado chamado liberdade, só que em um estágio mais alto que aquele que o selvagem podia atribuir, já que consiste na liberdade de fazer, dizer e pensar muito maior do que o estado originário do selvagem. É a própria experiência que leva ao desdobramento dialético.
Hegel, diferente da tradição, compreende o ser não apenas como aquilo que é, mas o que é e o que não é. Ambos, o ser e o nada, estão unidos no conceito das coisas. A expressão do ser como realidade contém aquilo que uma coisa é, e também o que ela não é, e ainda o que ela pode vir a ser. O conhecimento pleno de uma experiência só é possível quando se sabe o que uma coisa foi, o que ela é, e o que ela virá a ser. Assim, a experiência que a consciência tem de si é o acúmulo desse processo, avançando em cada estágio, como uma espiral no tempo. Nesse movimento, uma figura é posta, sai de si mesma, e depois retorna a si, num estágio mais elevado.
A descrição e compreensão desse movimento da consciência é o percurso do espírito absoluto, como experiência do conceito, na história. Ao percorrer essas figuras do pensamento, passamos pela consciência, a consciência de si mesma, o Estado, a Religião e a Filosofia, em que a tarefa desta última é descrever este processo em todas e cada uma de sua etapa. Assim como o ser e o nada formam juntos o conceito mais alto de resultados, num estágio mais avançado temos a vida e o pensamento. O importante é o processo [das Werden], que pode ser nomeado como Espírito [Geist] ou Conceito [Begriff]. Ao final, também se pode chamá-lo de Deus, que é o término do processo triádico, o resultado final como saber desse absoluto.
Todos os movimentos aparentemente contingentes, são, na realidade, eventos resultantes do processo histórico. São passos lógicos no desenvolvimento da razão, que se corporifica no Estado: as paixões, os impulsos, os interesses são todos uma expressão da razão, ou dos instrumentos de seu uso. Do nosso ponto de vista, o que vemos é o árduo desenvolvimento dessas sucessão no tempo, que revela três importantes passos: 1) A monarquia oriental (a unidade, a supressão da liberdade); 2) A Democracia Grega (a expansão na liberdade que estava perdida); 3) A Monarquia Constitucional Cristã (que representa a reintegração da liberdade no governo constitucional).
O Estado é o responsável por colocar a lei constitucional. O indivíduo é só em parte livre, porque é o sujeito da necessidade e precisa da liberdade do cidadão. Primeiro ele se expressa como reconhecimento do direito dos outros. Depois como moralidade. Finalmente, como moral social, em que a primeira instituição é a família, que é uma forma de sociedade civil. De uma forma imperfeita, a família é comparável ao Estado, que é o corpo social perfeito da Ideia.
Na mediação com os outros Estados, a Ideia coloca a lei internacional, nessa dialética da história. A Constituição é o espírito coletivo da nação, e o governo o seu espírito. A guerra, por sua vez, é o meio indispensável para o progresso político, representando a crise da ideia, que toma corpo em diferentes Estados, saindo vitorioso o melhor dos Estados. A base do desenvolvimento histórico é, portanto, racional, já que o Estado é o corpo da razão como espírito.
A filosofia hegeliana é especulativa, mas podemos destacar dois aspectos que apontam a forma indireta como o ideário hegeliano está presente na organização que a nossa consciência faz do dia-a-dia:
1) A constituição do Estado moderno como processo constante – as leis, o zelo e o trabalho diário em nome da fortificação estatal é decorrente do apreço hegeliano do indivíduo que emoldura a sua vida nas forças do Estado. Vive como a sua engrenagem. O indivíduo confere um valor superior ao Estado como algo natural, que o sobrepõe, que cuida da sua vida, da suas finanças, e em troca, ele reconhece a autonomia estatal perante à sua individualidade.
2) A ideia de reconhecimento cultural, tão difundida, é uma atualização renovada da chave de leitura hegelian. Ela nos remete à dialética do senhor e do escravo, famosa seção da Fenomenologia do Espírito. Assim, hoje podemos dizer que um indivíduo só se reconhece numa cultura quando ele está consciente de que outros indivíduos reconhecem a cultura que ele participa. Não é um processo isolado, mas de dependência. O ideal do convívio com a diferença tem uma remissão importante à filosofai hegeliana.
Georg Wilhelm Hegel (1743-1819): Filósofo alemão, nascido em Stuttgart. Estudou teologia, sobretudo sobre as religiões reveladas (judaísmo e cristianismo), comparadas à civilização greco-romana. É por volta de 1800 que Hegel matura a sua filosofia, com os escritos preparatórios para o seu sistema filosófico, assim como os escritos de Jena, culminando na sua grande obra, a Fenomenologia do Espírito (1807). É através dela que o sistema hegeliano se apresenta numa exposição extensa e completa. Também é nela que se observa pela primeira vez uma concepção clara e distinta da noção de absoluto em relação a Schelling: para este, o absoluto constitui o princípio, e para Hegel a síntese e conclusão suprema, o resultado de todo o processo dialético.
A formação do pensamento hegeliano é um assunto complexo, mas talvez possa ser dividida em três princípios de inspiração: teológico, metafísico e crítico. A influência de Spinoza é importante para unificar a relação entre pensamento e ser em uma identidade metafísica. À substância de spinozana falta o retorno a si, para se tornar um sujeito absoluto que reconhece a si mesmo. Por outro lado, Hegel pretende unificar os dualismos racionais kantianos, e assim estabelecer uma unidade dialética entre as oposições abstratas em uma perspectiva de conciliação na dialética: sujeito-objeto, entendimento-razão, matéria-forma, coisa em si-pensamento, natureza-Deus, liberdade-necessidade, etc. Hegel atribui expressamente a concepção da dialética como processo de síntese dos opostos através da mediação da negatividade, em que tudo é considerado mediante a “sagrada triplicidade” (tese-antítese-síntese).
Quando tomamos a Fenomenologia do Espírito (1807), interessa o percurso da “experiência da consciência” no mundo, envolvidas como relação lógica e científica. Há um “saber absoluto” nas principais etapas da progressão das figuras do pensamento – consciência, consciência de si, razão, espírito e religião. Trata-se do princípio motor do processo que para Hegel é a dialética, não enquanto simples instrumento do pensamento, e sim como essência do pensamento, a realidade como tal.
A dialética é este suprimir-consevar que descreve o itinerário da consciência em seus diversos pontos de vistas teóricos e práticos, e que chegam a se tornar uma reflexão filosófica. A razão é o espírito humano compreendido na plenitude de suas atividades espirituais, e na totalidade se seus momentos culturais e históricos. É o conteúdo da verdade justamente porque revela o devir da vida do espírito, até alcançar um saber absoluto.
A lógica hegeliana é o estudo denso e formal desse processo, levando às últimas consequências, na Ciência da Lógica (1812-1816), o princípio da autonomia do pensamento. É nessa lógica dialética que Hegel insere a filosofia como resultado e produção desse movimento no tempo (pela história), na relação do homem e sua finitude com o infinito (a religião), e as formas de expressão do espírito na cultura (pela estética).
Oposição ao kantismo: A chave hegeliana opõe-se aos fundamentos empíricos do criticismo kantiano. Em primeiro lugar, por considerar a estrutura categórica de Kant limitada e subjetiva. Hegel recusa a distinção entre coisa em si e fenômeno, a consciência transcendental e os juízo sintéticos a priori. O que está em questão nessa oposição é a diferença da concepção sobre a noção de “experiência” da consciência. As consequências entre ambos dizem respeito sobretudo à diferença da concepção da relação entre a finitude humana e o infinito, o que pode ser visto na ciência e na religião.
Existencialismo: A divisão entre ser e pensar, tão cara aos pensadores existencialistas, em Hegel está unida. Por este motivo principal, o existencialismo kierkegaardiano, apesar de tomar a dialética hegeliana, muda a chave em que ela está inserida. O resultado é que na tradição existencial o indivíduo é colocado como o principal, enquanto em Hegel ele é uma parte integrante do Todo.
Dialética marxista: A ideia de emancipação pelo comunismo é possível pela dialética marxista, que se coloca como uma dialética do trabalho, verdadeiramente efetiva, como teoria e práxis econômica. A dialética de Hegel é tida por Marx como o primeiro grande instrumento para pensar a relação entre pensamento e realidade no século 19. No entanto, ela estaria muito presa à filosofia como representação do pensamento, como uma ideologia.
Friedrich Nietzsche (1844-1900): Nietzsche seria o avesso hegeliano. Crítico ferrenho da idea de Estado, de filosofia da história e da ideia de síntese. Defendeu a ideia de luta como sobreposição de uma parte sobre a outra, sobretudo pelo apreço do indivíduo e de suas vontades. Além disso, refutou toda tentativa de aproximar a filosofia da religião, como no idealismo alemão, em particular em Hegel.
O hegelianismo pode ser dividido em duas ou três escolas bem definidas:
Os velhos hegelianos, ou hegelianos de direita: Considerados a ala conservadora dos hereditários do sistema de Hegel. Com grande poder nas universidades alemãs em meados do século 19, viam na sociedade prussiana a culminação de todo o processo filosófico e político: Carl Friedrich Göschel (1781-1861), Georg Andreas Gabler (1786-1853), Johann Eduard Erdmann (1805-1892), Julius Schaller (1810-1868), Leopold von Henning (1791-1866), Eduard Zeller (1814-1908), Kuno Fischer (1824-1907).
Hegelianos de Centro: Ao centro, alguns discípulos de Hegel, sem tendências definidas: Karl Ludwig Michelet (1801-1893), Philipp Konrad Marheineke (1780-1846), Johann Karl Wilhelm Vatke (1806-1882), Heinrich Gustav Hotho (1802-1873) e o nome mais destacado: Karl Rosenkranz (1805-1879).
Os jovens hegelianos, ou hegelianos de esquerda: Tidos como o setor mais liberal e progressista, leitores de Hegel a partir de um ponto de vista crítico ao cristianismo e à política da época, sobretudo à vinculação entre Estado, Deus e a religião. Os representantes: Eduard Gans (1797-1839), Friedrich Wilhelm Carové (1789-1852), Heinrich Heine (1797-1856), Ludwig Feuerbach (1804-1872), Max Stirner (1806-1856), Bruno Bauer (1809-1882) e Karl Marx (1818-1883).
É uma introdução ao sistema lógico criado por Georg Wilhelm Hegel. Nesta obra encontramos a sequência das diferentes formas ou fenômenos da consciência. A consciência não parte do saber absoluto, mas conduz necessariamente a ele. Assim o pensamento pode situar-se na imediatez do absoluto, ser ciência da ideia absoluta. Esta ciência da consciência procede dialeticamente, num processo de constante afirmações e negações sucessivas, que conduz à certeza sensível ao saber absoluto. É o mesmo processo que serve à filosofia para manifestar a ideia.
No percorrer das figuras fenomenológicas, o estado de inconsciência na relação com o objeto, em que as contradições vão levando a um reconhecimento pleno que a consciência faz de si mesma e da identidade essencial consigo mesma. Na “espiral dialética, a consciência percorre as seções da certeza sensível, a percepção, o entendimento, a verdade da certeza que a consciência tem de si mesma, a certeza e verdade da razão, a efetivação da consciência de si racional, a individualidade, e então o Espírito, a religião, e enfim, o saber absoluto.
Obra sistemática que procura expressar a ideia de enciclopédia e como exposição abreviada da Ciência da Lógica (1812-1816). Nesta obra Hegel procura fazer essa apresentação das ciências a partir do raciocínio dialético. O fundamento do conteúdo enciclopédico é o saber absoluto da filosofia especulativa, sendo que esse mesmo conteúdo enciclopédico que era fim da filosofia do espírito é agora início da Lógica, levando a crer que o saber que é o fim é a verdade do começo. O saber que é o fim e é a verdade do começo se dá apenas na medida em que o saber absoluto (enciclopédico) se põe como mediação: deve ser mediatizado pelo seu próprio conteúdo, ao mesmo tempo que se compreende nessa mediatização.
Manual publicado para o uso dos estudantes que assistiram às suas aulas na Universidade de Berlim. Esta obra tem uma influência muito grande para a teoria política e social, sobretudo para as várias correntes do marxismo e mesmo do liberalismo. Hegel desenvolve parte do seu sistema publicado na Enciclopédia das Ciências filosóficas (1817), correspondendo à teoria do espírito objetivo. É a parte prática de Hegel. O Espírito tende à liberdade, à completude. Busca encarnar-se adequadamente no mundo, como dever-ser, isto é, pelas normas que tornam possível a sua efetivação. A obra divide-se em um prefácio, o direito abstrato, a moralidade, a vida ética (a família, a sociedade civil e o Estado), e o direito público interno, nas suas várias formas de manifestação.
Para Hegel, a Ideia, na Fenomenlogia do Espírito (1807), é realidade na história. O objetivo da história universal é que o espírito torne-se um saber verdadeiro e se realize no mundo presente de modo concreto, como objetividade. A racionalidade integral da história implica ainda a realização completa da moral e da liberdade. O sujeito da história é justamente o povo e seu espírito, em que a marcha dos acontecimentos leva à constituição do Estado, reunindo os costumes, a arte e o direito. O fim da história é justamente realizar a liberdade e a razão. Nessa obra, Hegel percorre, assim, os vários momentos enciclopédicos não como uma descrição dos fatos, mas como uma lógica do percurso histórico dos acontecimentos.
Filósofo judeu e holandês. Tornou-se um grande expoente do racionalismo. Spinoza é a principal influência hegeliana da filosofia moderna, sobre tudo na sua concepção de substância e ideia. Em Spinoza, a noção de ideia como essência objetiva unifica-se aos objetos do mundo exterior. Essa concepção está presente em sua grande obra, Ética (1674), segundo a qual o universo é idêntico a Deus, única substância existente. A ideia da substância única, que confere realidade ao mundo, aproxima-se do modo como Hegel pensa a totalidade do percurso do espírito. O problema, no entanto, é que para Hegel há uma negatividade da substância absoluta de Spinoza. Ela prejudica a dialética natural das coisas do mundo.
O homem, que seria um dos modos dessa substância una em Spinoza, encontra-se regido por uma necessidade de tal ordem, que a sua liberdade fica prejudicada. O princípio da subjetividade no homem, a vida e o devir ficam comprometidos porque Hegel compreende o absoluto de Spinoza como ser uno, imóvel e inerte. A introdução da dialética hegeliana nessa perspectiva totalizante do mundo em Spinoza é uma tentativa de conferir um movimento que torna possível uma liberdade. Assim, o homem é também livre no reino da necessidade das ideias objetivas.
Filósofo suíço nascido em Genebra. Dele, Hegel herdou as ideias políticas sobre o uso da liberdade e da razão. A ideia da vontade geral, central no Contrato Social (1762) de Rousseau, foi incorporada propiciando a formulação da ideia do Estado em Hegel. Entre ambos permanece a concepção matriz de harmonia entre a liberdade individual e a autoridade governamental. Nessa unidade é estabelecida a justiça: pela ideia de um contrato, cada indivíduo entrega seus direitos ao governo, que em troca dá garantias de sua vida e de sua propriedade.
A diferença entre ambos os autores, no entanto, está na organização dessa perspectiva. Em Rousseau encontramos uma visão agregadora e atomística, em que o indivíduo se identifica com uma vontade geral em busca do bem comum, como síntese do que é melhor para todos. Em Hegel, esse processo ocorre pela organicidade do Estado, em uma conexão especulativa entre a vontade do indivíduo e a lei universal.
Filósofo alemão nascido em Konigsberg. O criticismo kantiano é um marco de viragem na filosofia. Em grande medida, é uma oposição e um dos motivadores da concepção hegeliana de experiência. Segundo Hegel, as categorias do entendimento em Kant são os elementos subjetivos da consciência, e que dá um valor objetivo à intuição pura sensível. Elas são determinações do sujeito, mas não do objeto. Se em Kant o fenômeno (aquilo que aparece) opõe-se à coisa em si (aquilo que não se pode pensar), em Hegel, ocorre o contrário, a objetividade é o “em si pensado”, a determinação do objeto e o conhecimento objetivo.
O idealismo kantiano, assim, seria para Hegel muito subjetivo, incapaz de lidar com os objetos da experiência no sentido concreto e imediato, mas apenas na universalidade abstrata. Para Hegel, a doutrina de Kant não teria feito nenhum progresso para a ciência pelo conhecimento das leis, porque não chegou a alcançar a sensibilidade na sua imediatez, como fato empírico. A filosofia hegeliana, em especial como é tratada na Fenomenologia do Espírito (1807), revela que a dialética da experiência é uma oposição direta à consciência transcendental do projeto das três Críticas kantianas, a saber: a Crítica da Razão Pura (1781), a Crítica da Razão Prática (1788) e a Crítica do Juízo (1790).
Filósofo alemão, nascido em Rammenau, e importante referência de debate para Hegel, com a sua importante obra, Princípios da Doutrina da Ciência (1797). Dois aspectos do pensamento fichteano surgem como indicadores de parentesco com Hegel: 1) a tarefa do pensar como a identidade originária do espírito, isto é, como um acontecimento único, primitivo, e que fundamenta a possibilidade do saber e gênese da temporalidade; 2) o programa da justificação integral da filosofia por ela mesma – ou seja, a filosofia, como grande ciência de auto-realização do espírito. No entanto, a famosa identidade do Eu = Eu de Fichte soa para Hegel como um idealismo absoluto, e radicalmente subjetivo.
Fichte pensa a uma diferença entre o absoluto e o saber absoluto (a razão infinita). O Eu é o absoluto, a coisa pensante que existe e tem intuição de si mesma como o Eu, e que é a coisa última. O Eu é intuído por si próprio como ação, e então vem o pensamento. É absoluto necessita, para a sua ação, um objeto sobre o qual recaia essa atividade. O universo é este objeto. Então, no ato primeiro de afirmar-se a si mesmo como atividade, necessariamente tem que afirmar também o “não eu”, como fim dessa atividade. Então, o absoluto se explicita em sujeitos ativos e em objetos de ação.
O conhecimento é uma atividade subordinada que tem por objeto permitir a ação do homem. Para atuar o eu necessita, primeiro, que haja um “não eu”; em segundo, conhecê-lo no tempo e no espaço. A atividade do sujeito é resultado de uma reflexão e idealismo absoluto, e que Hegel pretende passar dessa filosofia do absoluto como reflexão para a filosofia da vida. Ou seja, Hegel pretende outro modelo para pensar o sujeito e o seu modo de ser e de viver, uma relação única entre a finitude do homem e o infinito da razão do espírito.
Filósofo alemão, nascido em Leonberg. Hegel encontra parentesco com Schelling na ideia de que a filosofia surge exatamente no momento em que a consciência do homem entra em contradição com o mundo exterior.
A especulação filosófica é o meio termo dessa separação entre representação e objeto, entre consciência e ser. No entanto, a diferença está na relação entre sujeito e objeto: para Schelling, o pecado original da filosofia está nessa cisão no absoluto, e por isso se fala de uma filosofia negativa, incapaz de pensar a relação finito-infinito.
A filosofia não é um fim em si mesma, e tem de se superar, negando a si mesma. Hegel considera esse valor da filosofia atribuído por Schelling como algo muito derivado da objetividade, e por isso a sua compreensão da relação finito-infinito do espírito procura unir a consciência e o mundo exterior como síntese do conceito.
Se em Schelling a filosofia se nega para chegar à religião, como se houvesse uma cisão entre o ser e o pensar, em Hegel a filosofia identifica-se com a religião, em que o espírito é a subjetividade unindo-se à objetividade, isto é, unido ser e pensar em um sistema.
Hegel influenciou muitos pensadores. Alguns deles abriram caminhos ou ficaram conhecidos em diversas áreas do pensamento filosófico:
Filósofo dinamarquês que inaugura o marco do existencialismo. Foi leitor da filosofia hegeliana, da qual foi crítico. Também através dela formulou a sua dialética da interioridade e o problema do paradoxo do indivíduo singular.
Filósofo alemão. Inspirou-se na dialética hegeliana para pensar o materialismo histórico e a questão da economia como produção da ideologia como alienação da consciência.
Filósofo alemão, expoente da escola fenomenológica, que veio a influenciar a filosofia o século 20. Partiu dos estudos hegelianos para formular uma nova relação entre sujeito e objeto como fenômeno.
Filósofo importante na academia francesa. É autor de um dos principais comentários da obra hegeliana: Gênese e Estrutura da Fenomenologia do Espírito (1947).
Psicanalista francês, discípulo da teoria freudiana e inserido na tradição estruturalista. Leitor recorrente de Hegel, apropriando-se da ideia de devir na dialética para pensar a relação do desejo com o inconsciente.
Importante filósofo do pós-estruturalismo. Escreveu muitas obras sobre linguagem, tendo como referência o pensamento de Hegel.
Conhecido filósofo francês. Considerado um filósofo político, entusiasta do comunismo e leitor especialista e dedicado à obra hegeliana.
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Cronologia:
Georg Wilhelm Hegel (1743-1829)
Fenomenologia do Espírito (1807)
A Ciência da Lógica (1812-1816)
Encicloṕedia das Ciências Filosóficas (1817)
Lições Sobre a Filosofia da Religião (Póstumo: 1932)
Lições Sobre Estética (Póstumo: 1932)
A Filosofia do Direito (1817)
Lições Sobre a Filosofia da História (Póstumo: 1937)
As escolas hegelianas (velhos hegelianos ou direita hegeliana, centro, jovens hegelianos ou esquerda hegeliana) (1830-1850)
Difusão do marxismo, sob a influência hegeliana (a partir de 1840)
Difusão do existencialismo kierkegaardiano, em debate com a filosofia de Hegel (a partir de 1840)
Recepção hegeliana na França (1930)
Retomada hegeliana do pós-estruturalismo francês (a partir de 1960)
Redescoberta de Hegel sobre o problema do reconhecimento pela terceira geração da Escola de Frankfurt (a partir de 1990).