O Movimento Boa Praça, que começou com o singelo pedido de uma criança de quatro anos para fazer a festa de aniversário na praça próxima a sua casa, é um grupo de articulação formado por moradores do entorno de três praças paulistanas. O desejo desses vizinhos é viver em uma cidade mais humana, resgatar o sentido de comunidade, aumentar a segurança e devolver, a todos, o direito de ter um local agradável para brincar, passear, encontrar-se. Você gostaria de promover algo assim em seu bairro mas não sabe por onde começar?
Siga as dicas dos boa praças:
É comum as pessoas se depararem com aquele dilema digno de propaganda de biscoito quando se trata de ocupar ou recuperar um lugar público: “A praça está horrível porque ninguém vai ou ninguém vai porque está horrível?”. Para quebrar esse ciclo, alguém tem de começar a frequentar o local e pensar no que fazer.
A estratégia do Movimento Boa Praça é promover piqueniques e convidar todos os vizinhos. O lema do movimento é que o lugar deve sair desse encontro melhor do que entrou. Aí, vale fazer um mutirão para catar o lixo ou varrer, promover pequenos consertos, o que for necessário para ao menos começar.
Para promover o piquenique, é só escrever um convite com dia, hora, local, uma pequena explicação que anime o pessoal (“Venha conhecer seus vizinhos e vamos juntos recuperar a praça!” é uma possibilidade). Então, basta tirar algumas cópias e se munir de algo que, em cidades grandes, costuma faltar: coragem para falar com o outro. Não dói nada – e pode render muitos frutos!
Tente chamar um amigo ou convide seus filhos e aventurem-se tocando as campainhas. Costuma funcionar, para quebrar o gelo, dizer: “Oi, eu sou seu vizinho, moro no número tal”. Aí, engate a frase seguinte: “Vim te trazer um convite.” Pronto, você já assegurou à pessoa que é conhecida e que não quer lhe vender nada. Então, elas costumam sossegar e ouvir.
Se há empresas ou escolas em volta, convide-as também! Com o tempo, quando precisar divulgar algo, você vai encontrar gente que topa ajudar na distribuição de folhetos (quem costuma passear com o cachorro, por exemplo), lojas que deixam colar cartazes e começará a montar uma rede, eletrônica ou não.
As subprefeituras ou prefeituras são responsáveis pelos espaços públicos, como praças. Entre em contato com a que se ocupa (ou deveria se ocupar) do local que você vai tentar recuperar e conte sobre sua iniciativa. Diga que vai haver um piquenique com os moradores, peça ajuda ou melhorias para o que for necessário. Algumas subprefeituras têm toldos para emprestar ou podem disponibilizar uma equipe de limpeza.
Em São Paulo, para eventos com até 300 pessoas, não é necessário pedir autorização. Mas é interessante incluir o poder público e chamar sua responsabilidade no processo.
Pedidos sobre iluminação ou segurança podem ser encaminhados à empresa responsável pela luz nas ruas ou, em São Paulo, aos Conseg (Conselhos de Segurança), divididos por bairros.
No dia do piquenique, um tampo e dois cavaletes ajudam para montar uma mesa comunitária em torno da qual as pessoas se reúnem e onde colocam os comes e bebes que trouxeram. Se houver alguém que possa ensinar algo, tocar música, se apresentar, ótimo. Um atrativo a mais. Mas pode bastar simplesmente encontrar-se para conversar e promover alguma melhoria.
Durante o encontro, é hora de ouvir: de onde vieram os que vieram? Por que vieram? O que os moveu? O que eles fazem? A que se dedicam?
Tente identificar lideranças e bons propagadores, saber quais são os problemas ou coisas boas que cada um dos presentes enxerga no local. Se possível, monte uma pequena enquete para recolher informação e anote os e-mails e telefones de todos para futuros contatos.
Moradores antigos ajudam a resgatar a história do local. Se você sair desse encontro com algumas tarefas distribuídas ou outros encontros marcados, bingo! Alguém sabe consertar um brinquedo? Alguém tem areia ou tinta para doar? As pessoas estariam dispostas a ajudar? De que forma?
Pronto. Você já começou. A partir daí, o céu é o limite. Dependendo do número de pessoas que conseguir engajar e das habilidades de cada uma delas, você tanto pode melhorar o lugar quanto eventualmente conseguir reformá-lo.
Mas o mais importante, de todo modo, é o seguinte: quebrar o medo do outro e o medo de ir até ali. Porque de nada adianta ter uma praça linda se ninguém a usa. Só quando se usa o espaço público é possível entender quais as melhorias de que ele necessita para que mais gente queira frequentá-lo.
Praças, em geral, acolhem as pessoas se elas conseguem enxergar onde o terreno começa e onde termina, se enxergam um caminho para atravessar por ali. Por isso, é bom examinar os acessos: o lugar está aberto a várias ruas? Está iluminado? Que equipamentos tem?
Dá para pensar em muitas coisas: um parquinho, pequenas mesas, uma horta comunitária, um local de apresentações. Você e seus vizinhos decidem.
Por fim, mas não menos importante: você notará que conhecer quem mora por perto gera mais segurança e traz benefícios que vão desde receber “ois” e sorrisos quando se sai à rua, até presentes como mangas da árvore alheia! Parar de enxergar o outro como ameaça muda tudo. E, muitas vezes, o olhar atento de seu vizinho, é infinitamente mais eficaz do que a segurança privada ou a polícia de seu distrito.
Fotos: Divulgação Movimento Boa Praça
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