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Quanto você paga por um café?

Empreendedores de São Paulo abrem estabelecimento onde quem decide o preço do cafezinho é o cliente
Bruno Torres
27/09/19

Para quem entra pela primeira vez no Preto Café, a sensação é de estar em mais um daqueles estabelecimentos descolados e caros de Sampa. Nada mais longe da verdade. Ao ser recebido por um dos sócios, tudo muda. Eles rapidamente e de maneira muito simpática explicam que a casa é uma espécie de bastião contra a gourmetização da vida em São Paulo. Lá o preço não é absurdo, pois quem decide o quanto vai pagar é o freguês. Isso mesmo, o freguês. Logo, o preço será sempre justo. Essa experiência torna o Preto Café um negócio inovador e realmente surpreendente. O quadro na parede já denuncia como funciona: confira nosso cardápio, fale com quem estiver de avental, decida com quanto quer contribuir e deposite sua contribuição no aquário ou use a máquina de cartão. Trata-se simplesmente de um novo modo de consumo, mais justo e humano.

A iniciativa é de Maurício Alcântara, Carolina Gutierrez, Francele Cocco e Lucas Pretti, amigos e fundadores do Preto Café, inaugurado no último sábado, 25 de julho. O estabelecimento, localizado em Pinheiros, divide o espaço com o coworking oGangorra. Sem funcionários, os quatro donos alternam os turnos entre manhã e tarde. Sem nada de hierarquismo, todo o trabalho é horizontalizado, inclusive, amigos podem ajudar também. Tortas veganas, bolos integrais, sucos naturais e café, estão entre os produtos oferecidos à clientela. Quem estiver com sede pode beber água no filtro de barro. Isso cria um ambiente muito especial. Mesmo com poucas mesas, o local nos convida a ficar um bom tempo conversando com as pessoas e apreciando um bom cafezinho.

Interior de um café com duas mesas e quatro pessoas consumindo doces e bebendo café

“Eu e meus sócios sempre conversávamos sobre a vontade de ter um lugar em São Paulo, como aqueles que víamos em nossas viagens, onde as pessoas pudessem permanecer. Normalmente, a lógica em São Paulo é entrar, pedir e ir embora. Em outras cidades que já fui a pessoa entra, toma uma bebida, lê um jornal e ninguém se apressa. Era isso que sentíamos falta aqui”, declara o publicitário e um dos fundadores Maurício Alcântara.

No ano passado, os sócios descobriram a existência do Curto Café, no Rio de Janeiro, um estabelecimento que funciona no modelo de pague quanto quiser. “É um pouco diferente do nosso modelo, pois só tem cafés expressos, então, acaba sendo uma dinâmica mais rápida de consumo”, comenta Alcântara. Foi assim que surgiu a ideia: "criar um lugar de permanência com essa dinâmica sem preço fixo". Segundo Alcântara, o intuito não era só abrir um café com esse estilo, mas também levantar a reflexão de quanto custa tudo o que consumimos.

“Abrimos os nossos custos para as pessoas. Poucos estabelecimentos mostram quanto custa manter seu espaço. Não queremos dar uma resposta às cafeterias ou lanchonetes com preços abusivos, afinal cada um é livre e tem a sua formação de preço. Na verdade, é mais uma provocação para a gente pensar mais sobre o que consumimos na cidade”, reforça o publicitário.

Balcão de pagamento com o tabela de preços ao fundo, máquinas de débito à esquerda, um porta-moedas ao centro e uma tigela de vidro transparente para recolher o dinheiro

Essa nova forma de consumo, apesar de não ser muito propagada, é vista com bons olhos por todos os que entram no local. O preço justo pelos produtos é o cliente quem escolhe. “Eles não estão acostumados com isso. Sempre pedem um parâmetro, mas a nossa ideia é justamente não oferecer um padrão. Deixamos tudo transparente, queremos que as pessoas nos ajudem a formar o espaço. Por isso, elas têm de levar em consideração que, mesmo com o pague o quanto quiser, há um custo para manter tudo isso”, esclarece Alcântara.

Por ser uma associação sem fins lucrativos, o café depende de todo o dinheiro arrecadado com a venda dos alimentos e das bebidas. Para conseguir fechar o mês sem dívidas, o negócio precisa lucrar aproximadamente R$ 30.000. Caso falte, os quatro sócios terão que repor, mas se sobrar algum dinheiro, ele irá para um fundo do café. Para ajudar no orçamento, os fundadores pretendem criar eventos, oficinas e outras atividades.

Duas prateleiras de vidro instaladas em um recuo na parede com vários utensílios para preparo e consumo de cafe, como bules, pires, xícaras e potes de açúcar

“Planejamos vários tipos de oficinas relacionadas, ou não, ao universo do Preto Café. O importante é que elas tenham alguma relação com ativismo e pensamento crítico político sobre a vida na cidade”, diz Alcântara. As atividades vão desde alimentação às aulas costura. As propostas serão baseadas na autonomia do faça você mesmo.

Quem olha para a parede, percebe que todos os utensílios presentes na prateleira são diferentes. Isso ocorre porque foram todos doados. Uma decisão que os fundadores tiveram foi reutilizar tudo o que fosse possível para, além de ser mais sustentável, reduzir o custo de montagem do espaço. Cada objeto, xícaras, copos, pratos e talheres foram doados pelos próprios sócios ou por amigos. Alcântara lembra que o local também recebe doação de livros.

O Preto Café abre das terça aos sábados, das 10h às 19h. O local se encontra na rua Simão Álvares, 781, em Pinheiros. Vale a visita.

Fotos: Cintia Pimentel


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