É comum pensarmos que plantas pouco conhecidas ou encontradas em lugares inusitados sejam proibidas ao consumo. Porém, isso não precisa ser bem assim. Isso porque muitas dessas plantas podem servir de alimento, inclusive algumas delas são muito saborosas. Estamos falando das Pancs, as plantas alimentícias não convencionais.
Quer saber mais sobre o assunto? Então confira a seguir o artigo que preparamos especialmente para você!
Guilherme Ranieri, gestor ambiental e cozinheiro, explica que as pancs, plantas alimentícias não convencionais, são quaisquer plantas pouco usuais. Assim, enquadram-se nessa categoria as nativas, exóticas, cultivadas ou silvestres com algum uso alimentício. E esse uso pode ser tanto direto, na forma de fruto ou verdura, quanto indireto, como amido, fécula ou óleo.
“É importante não confundir plantas ruderais, que são aquelas que nascem sozinhas e crescem rápido, com as Pancs”, desmistifica Ranieri. Isso significa que as Pancs não são necessariamente ruderais, mas quando são, ajudam a fazer a sucessão ecológica. Assim, elas preparam o terreno para espécies mais exigentes, que precisam de solo mais rico, arejado e com cobertura morta.
“As Pancs abrangem todas as espécies que demandam explicação do tipo: falar nome científico e mostrar imagens da planta. Ou seja, não fazem parte da alimentação do dia a dia da maior parte da população. Ainda, raramente estão disponíveis em mercados, feiras e, especialmente, em supermercados”, acrescenta Valdely Kinupp, professor fundador e curador do herbário do Campus Manaus Zona Leste (CMZL).
Para identificar essas plantas é preciso se informar com fontes seguras sobre o assunto. Isso porque não existe uma regra exata para o reconhecimento.
“Saber o nome científico e procurar por ele na internet ajuda bastante. Aliás, é um perigo se ater a nomes populares, porque plantas comestíveis e venenosas às vezes são conhecidas pelo mesmo nome. Algumas plantas como a taioba, por exemplo, podem confundir mesmo quem já conhece bastante sobre o assunto”, alerta Ranieri.
Lançado em março de 2015, o livro Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) é um bom exemplo de fonte de consulta. Kinupp, junto com o engenheiro agrônomo Harri Lorenzi, escreveu e organizou esse guia, que é o primeiro de identificação desses tipos de plantas no Brasil. Nele são apresentadas 351 espécies e 1.053 receitas.
“Quanto mais a mídia divulgar as Pancs, mais chances elas têm de chegar às feiras, mercados, à merenda escolar. Enfim, de serem cultivadas e passarem a ser alimentos regionalizados nos diferentes biomas brasileiros”, professa Kinupp.
Existem inúmeras espécies de Pancs e isso torna difícil caracterizá-las. Geralmente, elas são mais adaptáveis a ambientes em condições extremas, como muito secos, muito úmidos ou muito sombreados.
Ranieri exemplifica o caso das plantas alimentícias não convencionais ruderais. Para essas plantas, o crescimento é mais rápido e elas são mais resistentes, o que exige menos insumos e irrigação.
“As mais comuns que nascem em São Paulo possuem essas características de resistir a um ambiente muito seletivo, como a fresta de uma calçada, sem rega, muito sol, pisoteio e expostas a poluição”, ilustra Ranieri.
Para Kinupp, a principal característica desse tipo de planta é que elas são mais rústicas e resilientes do que as plantas convencionais. Além disso, geralmente, elas produzem sementes que podem ser colhidas e estocadas para continuação do plantio.
“Estas são vantagens, pois o agricultor fica autônomo. Independente da indústria de sementes, que, nos últimos anos, são geralmente híbridas ou transgênicas. Muitas hortaliças não convencionais são perenes, ou seja, produzem por diversos anos pós-plantio. Podemos citar como exemplos a ora-pro-nóbis, a taioba e a urtiga", esclarece.
Podemos iniciar a lista de vantagens pela diversificação do repertório de sabores e nutrientes ingeridos. Isso porque “elas não são transgênicas e, até o momento, a maioria que vem sendo produzida é oriunda de cultivos orgânicos. Ou seja, não recebem agrotóxicos”, afirma Ranieri.
No aspecto econômico, as plantas alimentícias não convencionais abrem um novo mercado para restaurantes, agroindústrias, turismo rural, comunitário e de festas típicas.
“As Pancs também contribuem para conservação da natureza, pois não são cultivadas com gasto de energia fóssil da motomecanização e com usos de herbicida”, aponta Kinupp.
“As principais desvantagens do consumo estão mais relacionadas aos riscos de confundir as espécies que são comestíveis com as não alimentícias”, alerta Julino Soares, especialista na área de farmacovigilância.
“Outro problema do consumo dessas plantas são as fontes de contaminação, como a poluição do ar e das chuvas, dejetos animais, dentre outros. Mesmo com o processo de higienização caseira é melhor não arriscar”, adverte Soares.
Lavar bem as plantas alimentícias não convencionais continua sendo a principal precaução a ser tomada. “Afinal, as Pancs são frutas e hortaliças apenas desconhecidas do mundo moderno, onde alimentação ficou homogênea e muito dependente da agricultura quimificada e industrializada”, lembra Kinupp.
Além disso, Kinupp sugere que as plantas alimentícias não convencionais sejam adquiridas de produtores ou cultivadas em casa para evitar contaminações. “Acompanhar todo o ciclo de vida de uma planta também é uma forma de prazer. Isso porque alimentar-se vai além daquilo o que colocamos no prato”, motiva o especialista.
Kinupp conta que vegetarianos, crudívoros e portadores de certas doenças ou alergias são grandes entusiastas na busca por Pancs. E isso se deve ao aumento do interesse por alimentos orgânicos, saudáveis e regionais por esses grupos e pela população em geral.
Além disso, não existe muito segredo na preparação de receitas com essas plantas. Então, para começar a incluí-las na alimentação, basta achar um substituto para ingredientes da culinária tradicional. Veja alguns exemplos a seguir:
Cabe ressaltar que em alguns dos casos a permuta do ingrediente não substitui também a forma como ele é preparado. Por isso, no caso das Pancs, que são menos populares, é preciso estudar como é feita a coleta, o processamento e as precauções que devem ser tomadas.
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