Esse foi o pedido de Alice Lotufo, de então 4 anos, para sua mãe, a administradora Cecília Lotufo, em setembro de 2008. As duas, moradoras da zona Oeste de São Paulo, costumavam parar no local no caminho de volta da escola. Acontece que a praça estava muito descuidada: havia brinquedos quebrados, enferrujados, lixo espalhado, a areia estava suja. “Expliquei que não dava, porque o parquinho estava detonado”, lembra Cecília. Mas então, a menina disse algo que lhe acendeu uma luz:
Cecília lhe fez uma proposta: Alice abriria mão de seus presentes de aniversário para ganhar um parquinho novo. Ela topou. E Cecília foi à luta: falou com a subprefeitura responsável, tocou a campainha de todos os vizinhos, procurou seus amigos, conversou com conhecidos que encontrou na praça, com gente de empresas do entorno... A todos, dizia o seguinte: Alice ia fazer aniversário e o presente seria alguma colaboração para o parquinho no dia da festa.
"A gente conserta, mamãe”, a vontade de Alice e a disposição de Cecília foram o pontapé inicial para a criação do Movimento Boa Praça.
Por mais surreal que soasse tal ação em uma cidade como São Paulo, aos poucos todos começaram a pensar em algum presente para dar: a subprefeitura consertou os brinquedos e cedeu toldos para o dia da festa. Uma academia do bairro emprestou uma cama elástica para as crianças brincarem. Alguns deram dinheiro. Um supermercado doou lixeiras. Houve gente que decidiu dar o que sabia fazer: foram contar histórias, tocar música, fotografar a festa, construir mosaicos.
Depois da festa, Alice – e todas as crianças do bairro – tinham um parquinho revitalizado, com amarelinha nova e uns lagartos de mosaico enfeitando o muro. Mais do que a praça, aquela comunidade ganhou um novo sentido: vizinhos se conheceram e cada um percebeu que, dando um pouquinho, era possível realizar coisas grandes.
Mas o grupo entendeu também que de nada adiantaria ter uma praça bonitinha se ninguém a usasse, se ninguém olhasse por ela com regularidade. Em pouco tempo, a praça estaria danificada novamente. Então, uma nova idéia surgiu: promoveriam um piquenique aberto a todos, no último domingo do mês. A intenção era chamar mais gente do entorno, trocar ideias sobre os problemas do bairro, se divertir e deixar o lugar melhor que antes.
Foi nesse primeiro piquenique que eu, Carolina Tarrío, jornalista, mãe de Ana Luisa, da mesma idade de Alice, conheci essa história. Coincidentemente, eu morava em frente a outra praça, a cinco quadras dali, e vinha conversando com as pessoas de meu entorno (escola, síndicos de prédios, vizinhos) para revitalizar o lugar.
E então, a história se repetiu na nova praça. E de encontro em encontro, de piquenique em piquenique, o Movimento Boa Praça surgiu.
Faz seis anos que esse grupo de vizinhos se ocupa voluntariamente em mobilizar pessoas do entorno para encontrar-se, recuperar os lugares, se divertir. Já levaram o movimento a várias praças da zona oeste, em mais de dezenas de piqueniques, teatro, música, cinema, oficinas. Fizeram mutirões e reformas. Construíram móveis. E, sobretudo, se sentiram mais seguros, mais acompanhados por conhecer quem morava ao seu lado, vivendo em uma cidade mais humana. “O que queremos é que essa história possa recomeçar muitas e muitas vezes, em cada praça da cidade”, diz Cecília. Você se habilita?
Fotos: Divulgação Movimento Boa Praça