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Gerais

Como alimentar 9 bilhões de pessoas?

Grande desafio: garantir a segurança alimentar do planeta em um cenário de crescimento da população
Bruno Torres
19/04/15

Se hoje cerca de um bilhão de pessoas passam fome no mundo, vamos imaginar em 2050. A população deverá chegar a nove bilhões de pessoas e a produção agrícola precisará aumentar em 60% sua produtividade, apenas para assegurar que haja alimentos para todos. Neste meio tempo, a mudança do clima, a escassez da água e a degradação do solo podem reduzir a produtividade em um quarto, levando mais milhões de pessoas à condição de pobreza extrema e desnutrição.

O desafio não é apenas produzir comida, mas fazer com que ela seja nutritiva para evitarmos a perpetuação de um ciclo vicioso, no qual as pessoas crescem sem os nutrientes essenciais para o desenvolvimento físico e mental. Vale ressaltar que a falta de nutrição adequada nos dois primeiros anos de vida pode causar danos irreversíveis.

Vivendo em um mundo onde há uma superabundância de oferta de coisas para comer, de todo tipo e procedência, nós nem imaginamos que existe gente que não tem acesso ao básico para não passar fome. A falta de acesso ocorre, principalmente, nos países mais pobres e provoca conflitos. Mas pode avançar para o mundo desenvolvido, onde já se faz sentir em parcelas importantes de suas populações.

Esgotamento dos recursos naturais

Há uma soma de fatores que contribui para um quadro preocupante. A humanidade usa mais água do que deveria na produção industrial e na agricultura, reduzindo os recursos hidrológicos. O uso de água para a produção de alimentos pode chegar de 10 trilhões a 13 trilhões de metros cúbicos por ano, em 2050. Isto é 3,5 vezes mais do que é utilizado hoje.

Vastas extensões de terra são utilizadas para colheitas como as de soja e de milho, que nunca chegarão à mesa do consumidor. Elas serão transformadas em biocombustíveis e estão eliminando os meios de subsistência de pequenos agricultores em todo o mundo. Além disso, esse processo afeta o estoque de alimentos.

Carne na mesa

Há mais: o aumento fenomenal da classe média em nações em desenvolvimento, como China e Índia, e também da África, traz um novo hábito ocidental: o de comer carne. A produção de um quilo de carne usa de 20 a 50 vezes mais água, que a produção de um quilograma de vegetais. Áreas de pasto são abertas por desflorestamento, o que contribui com o aquecimento global que, por sua vez, leva a desastres naturais como secas e enchentes, tornando a atividade agrícola mais imprevisível e os preços dos alimentos mais voláteis e erráticos.

Calor extremo significa perdas agrícolas

Um estudo feito no início de 2013 por Ed Hawkins, metereologista da Universidade de Reading, da Inglaterra, traz revelações perturbadoras. A cada dia, em que a temperatura excede 32 °C percebem-se perdas significativas na produção agrícola. Nos últimos 50 anos, o número médio de dias em que este limiar perigoso foi ultrapassado passou de três por ano para mais de cinco, e pode chegar a dez nas próximas duas décadas. Em algumas regiões produtoras importantes, essa média pode chegar a 15 dias com temperaturas acima de 32 °C.

Este é apenas um exemplo. Outras culturas essenciais, como a de trigo, são também afetadas por este fenômeno e por alterações nos padrões de chuva. A chamada Revolução Verde, iniciada nos anos 1960 por iniciativa do agrônomo americano Norman Borlaug, que se acredita ter salvo mais de um bilhão de vidas, pode estar sendo rapidamente revertida pelas alterações no clima.

Extremos severos, como os que foram vistos na Austrália, deverão se tornar muito mais prováveis nas próximas décadas devido à mudança do clima. Nos Estados Unidos, onde 2012 foi o ano mais quente registrado na história, presenciou-se uma seca que atingiu quase 60% do território contíguo do país. O resultado foi a pior colheita de milho em 20 anos. Um estudo indica que, sem ação contra a mudança do clima, colheitas de trigo e soja irão encolher em 30% até 2050, no planeta, por causa do aquecimento global.

Plantação de trigo
O trigo só perde para o milho em termos de alimento mais cultivado no mundo

Dados sobre a produção mundial de milho fornecem uma ilustração das ameaças à segurança alimentar. O milho é o cereal mais produzido no mundo. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), nos últimos cinco anos a produção média foi de 778,8 milhões de toneladas. No mesmo período, por exemplo, a produção de arroz em casca foi de 668,1 milhões de toneladas e a de trigo situou-se em 662,2 milhões.

O relatório sobre os impactos da alteração climática na Terra divulgado pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (conhecido como IPCC, da sigla em inglês), indicou que algumas culturas como arroz, trigo e milho podem sofrer apenas com a elevação de apenas 1 °C na temperatura e as piores previsões indicam perdas de mais de 25% na produção desses grãos até 2050. Sobre o tema, a avaliação aponta que, com o crescimento da população, uma menor produção de grãos pode levar a uma crise alimentar global.

A conclusão do documento é que a capacidade de adaptação humana está se esgotando. Faz-se urgente, portanto, diminuir o aquecimento global e as práticas que o causam.

Mais de 30% da comida no lixo

Joga-se muita comida fora. São 2 bilhões de toneladas, diz a Instituição de Engenheiros Mecânicos da Grã-Bretanha. Na Grã-Bretanha, o varejo produz 1,6 milhão de toneladas métricas de lixo, por ano, ao rejeitar frutas e vegetais sem aparência ou tamanho considerados adequados para o gosto de seus consumidores. Dos alimentos que chegam aos supermercados do mundo desenvolvido, de 30% a 50% são jogados fora por consumidores, que não compreendem o significado exato das etiquetas com datas de validade para consumo.

No mundo rico, há práticas relativamente eficientes na agricultura, transporte e armazenamento. A maior parte do desperdício ocorre pelo comportamento do consumidor e do varejo. Vá ao supermercado do bairro, dê uma olhada na seção de frutas e legumes, por exemplo, e imagine se aquelas montanhas de alimentos serão consumidas antes que se estraguem.

Banca de frutas

Nos países mais pobres, os problemas são de outra natureza. Neles, há perda de eficiência no plantio e estoques que se perdem entre o manejo e o armazenamento. Na África subsaariana e no sul-sudeste da Ásia, o que é jogado fora representa de seis a onze quilos per capita por ano, de acordo com dados da Organização para Alimentos e Agricultura da ONU (FAO).

O que é segurança alimentar

O Encontro de Cúpula Mundial de Alimentos da FAO, em 1996, definiu que a segurança alimentar existe quando: "todas as pessoas - o tempo todo - têm acesso a alimentos seguros e nutritivos para manter uma vida saudável e ativa." A Declaração de Roma, feita ao final da reunião, pede "a redução pela metade do número de pessoas cronicamente desnutridas do mundo até 2015".

Neste mês, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), o Programa Mundial de Alimentos (PMA), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), lançaram, juntos, o primeiro relatório unificado sobre os avanços na erradicação da fome e da má nutrição no mundo até 2030. De acordo com o documento, o número total de pessoas vítimas da fome no mundo é de 815 milhões: na Ásia: 520 milhões; na África: 243 milhões; na América Latina e no Caribe: 42 milhões.   

Apesar de ela afirmar que temos o conhecimento e os recursos para isto acontecer, a meta tem sido severamente prejudicada por todos os fatores citados. A insegurança alimentar, na verdade, parece ter chegado para ficar.

Foto 1: Jayneandd / Flickr: jayneandd / CC BY 2.0
Foto 2: Shira Gal / Flickr: miss pupik / CC BY 2.0


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