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Filosofia

Bullying: o lado difícil da convivência

Entender como e quando interferir é uma forma dos pais ajudarem seus filhos
Bruno Torres
27/09/19

A maioria das pessoas quando criança presenciou, praticou ou foi vítima de alguma situação de deboche dentro ou fora da escola. Não faz muito tempo que esse comportamento, quando exacerbado, passou a ser alvo de estudos psicológicos, ganhou mais atenção dos pais e educadores e recebeu o nome de bullying, palavra originária do termo inglês "bully" (valentão).

Pela relevância, o assunto foi tema da terceira noite do Ciclo de Encontros com a Educação, organizado pela Sociedade Antroposófica no Brasil (SAB) no Espaço Cultural Rudolf Steiner. O debate buscou identificar atitudes e motivações que abrem espaço para esse tipo de assédio e discutiu como a família, em parceria com a escola, pode contribuir para interrompê-lo.

Fronteira entre brincadeiras e o assédio

A disputa por espaço é prática fundamental à formação do indivíduo, pontua a a psicóloga especializada em jovens Sandra Stirbulov, que foi ao debate. “É importante testar limites e experimentar diferentes situações de relação. Brincadeiras e ironias, até mesmo um pouco agressivas, fazem parte do embate saudável para conquistar espaço próprio”. Os pais devem conter o ímpeto de interferir, caso contrário a criança pode criar o hábito de esperar que alguém a defenda, acredita.

O que define o bullying

A diferença entre as brincadeiras que fazem parte do crescimento e o amedrontador bullying está na frequência e intensidade dos embates. Se há intenção de ferir, se são feitas diante de um público espectador e sem reação da vítima, as agressões podem ser classificadas como bullying. Nesse caso pode haver estragos emocionais – e aí um adulto deve interferir.

Vale destacar que o mal-estar também se propaga a quem, contrariado, assiste às agressões, mas se sente impotente para mudar o cenário. Dar voz aos jovens é importante para identificar o problema e agir.

Como preparamos nossas crianças para relacionamentos?

Essa foi a pergunta que ecoou durante o encontro. Como palestrantes, o evento reuniu Alfredo Rheingantz, professor e gestor da SAB; Mar'Junior, ator e autor do Bullying - Eu sofri. Eu pratiquei. Eu hoje conscientizo, e as co-fundadoras do projeto Design for Change, Angélica Garcia e Carolina Pasquali.  


Cartaz com as discussões sobre bullying em debate organizado pela Sociedade Antroposófica no Brasil

No debate, os participantes concordaram que a pressão social é intensa: o desejo pela aceitação faz até adultos se renderem aos modelos propostos. Para ser preservada do bullying, é preciso fortalecer a criança. Para tanto, ela precisa de autopercepção – quem sou, qual é o meu lugar – e autoconhecimento – qual meu limite, como me sinto.

Ao mesmo tempo, é fundamental redirecionar o comportamento de jovens que intimidam. Muito se fala que a falta de amor leva à agressão, mas esse mesmo caminho é trilhado também quando há falta de limites.

“Só pratica bullying a criança que tem autorização da família”, acredita a educadora e psicóloga Cleusa Escorzafava, que foi assistir ao debate.

Design for Change, projete a mudança

Criado na Índia e hoje presente em 38 países, o movimento Design for Change busca habilitar as crianças a se apropriarem de seus desafios para conseguir transformá-los. "Elas são convidadas a expressar suas inquietações, a imaginar como resolvê-las e a colocar isso em prática", explica o site do projeto no Brasil.

“É bastante desafiador lidar com adolescentes da classe baixa e média baixa, porque eles vivem a agressividade em muitos lugares – até mesmo em casa. Geralmente quem oprime o faz porque é também oprimido”, relata Carolina Pasquali, que em 2012 trouxe ao Brasil o conceito do DFC.

“Nas ações em escolas públicas, ficou evidente que os agressores são quem mais reclamam serem vítimas de desrespeito”, diz Angélica Garcia, co-fundadora da organização no Brasil. “O trabalho do Design for Change provoca a observação do problema sob a ótica do outro.”

Design for Change
Angélica Garcia (esq.) e Carolina Pasquali do Design For Change

Sob os pilares do amor e da empatia, que geram a conexão com o outro, a iniciativa quer, entre outros aspectos, promover a sensação de pertencimento. Sentindo-se parte integrante (do grupo, da escola, da comunidade), o ser humano se percebe atuante e então mais responsável pelos seus atos.

Convivência e valores

Ainda que a agressão não ocorra na escola, é consensual entre profissionais que lidam com jovens que a instituição tem papel fundamental na prevenção do comportamento. Ali são transmitidos valores e conceitos. O ideal é que todos os educadores sejam preparados, desde o porteiro até o coordenador, passando, claro, por monitores e professores. “Foi marcante ver uma funcionária que auxilia no trânsito na saída da escola repreendendo crianças que chamavam uma colega de gorda”, diz Carla Dupont Vanini, cujos filhos estudam em São Paulo. “Nesse momento, percebi que um porteiro é educador – ou deveria ser, porque convive e se comunica com as crianças: suas decisões e atos interferem nos pequenos.”

Ações que geram efeito

De acordo com o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, quando o adulto age rapidamente e de forma consistente é possível reverter o quadro de ofensivas.

“Ouvir mensagens anti-bullying dos diferentes adultos presentes em suas vidas fará as crianças registrarem que essa prática é inaceitável”, também divulga a divisão americana, que ressalta que todo ambiente e situação são adequados para reforçar essa mensagem.

A fórmula contra esse mal, cada vez mais presente na sociedade, é trabalhar desde cedo alguns pontos na educação. São eles: aceitação da diversidade; ajudar a criança a analisar as próprias atitudes e do grupo; ensinar o que é assédio moral e desrespeito; e, finalmente, alertar sobre as consequências dessa atitude.


Fotos: Roberta Akan 


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