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Bioconstrução e permacultura pelo Brasil

Grupo Lowconstrutores Descalzos leva projetos de construção natural, arquitetura orgânica, economia participativa e educação ambiental para várias partes do país
Bruno Torres
27/09/19

O sonho de compartilhar os conhecimentos da bioconstrução e da permacultura e adquirir novos saberes de culturas ancestrais levou um grupo de arquitetas, estudantes e bioconstrutores a se juntarem numa espécie de caravana pelo Brasil. A iniciativa, que recebeu o nome de Lowconstrutores Descalzos, realiza cursos, vivências e projetos que envolvem construção natural, arquitetura orgânica e educação ambiental.

Telhado de palha e madeiraDesde 2012 na estrada, a equipe é composta atualmente por sete pessoas de várias partes do mundo (México, Ucrânia, Portugal e Brasil) que se conheceram na Ecovila Tibá (Tecnologia Intuitiva e Bio-arquitetura), no Rio de Janeiro.

O nome da iniciativa é totalmente inspirado nos conceitos-chave da bioconstrução. Lowconstrutores tem relação com o conceito de baixo impacto ambiental dos projetos, enquanto descalzo é uma referência ao livro Manual do Arquiteto Descalço, do holandês Johan Van Lengen, mestre do grupo e fundador do Tibá.

“Já fizemos uma expedição pela Amazônia, onde trabalhamos com vários povos indígenas, como os huni kuin e os yawanawa. No Rio de Janeiro, passamos bastante tempo na ecovila El Nagual e no Instituto Pindorama. No sul da Bahia, organizamos vivências e cursos, na comunidade Aldeia e na ecovila Piracanga onde, inclusive, fizemos o projeto de uma casa de gestação (espécie de maternidade) que está sendo construída pelos residentes da ecovila, além de alguns projetos na comunidade de Maraú”, conta Irina Biletska, que nasceu na Ucrânia e hoje passa um tempo em Piracanga com Inti, seu pequeno filho de 3 anos.

Projeto da casa de gestação
Projeto da casa de gestação em Piracanga, no qual o desenho representa uma mulher de cócoras

Depois de passar por vários lugares, o grupo decidiu se fixar por um tempo. “Muitas das atividades que nós fazemos estão relacionadas com permacultura e agrofloresta; contudo, não podemos levar a floresta conosco”, brinca Biletska. Atualmente, a maior parte do grupo vive em Carrancas, Minas Gerais, e o restante em Piracanga.

Todos podem bioconstruir

Quando se fala em construção com materiais como barro, madeira, palha, areia, bambu, entre outros, a impressão de muitos que vivem no meio urbano é de que a estrutura não durará muito tempo por aparentar fragilidade. “Isso não é verdade. Há, por exemplo, a Muralha da China feita através de técnicas de construção com barro e várias outras estruturas milenares que estão firmes até hoje”, diz Biletska.

Escola Sempre Viva, Algodões, Bahia
Escola Sempre Viva, Praia de Algodões, Bahia

“Uma das nossas mensagens é que todos são capazes de construir sua casa e criar seu próprio ambiente. Nós acreditamos que o ser humano também sabe construir sua casa, assim como fazem outras criaturas do planeta Terra. Na história da humanidade, até a era industrial a maioria das pessoas construía suas casas com técnicas de bioconstrução", afirma a arquiteta.

“Além disso, enfatizamos a importância de vivermos em comunidade. É muito mais fácil construir sua própria casa com ajuda dos amigos do que sozinho. Esse mundo capitalista nos torna muito individualistas, é todo mundo por conta própria. Por isso, tentamos resgatar a cultura do mutirão que valoriza a possibilidade de construir juntos. Esse pode ser um momento divertido e não um trabalho pesado”, ensina Bilestka.

Arquitetura orgânica e permacultura

Além de usufruir dos materiais e técnicas mais comuns em cada região, os projetos do Lowconstrutores são elaborados conforme os princípios da arquitetura orgânica e bioclimática. “A arquitetura orgânica está muito conectada ao modo como percebemos o espaço e ao conceito de que forma e função é uma coisa só. Nós acreditamos que o desenho da casa, por exemplo, pode ajudar as pessoas que nela vivem a se desenvolverem melhor”, explica a arquiteta. Os fatores geográficos também são considerados na elaboração do projeto, como as direções do nascer do sol, predominância de vento e chuva, paisagem, entre outros. “Cada casa que desenhamos é enraizada com o local. Ela nasce desse local”, sentencia Biletska.

Interior da casa feito de madeira e barro
Casa na Aldeia em Itacaré, Bahia

“Como também trabalhamos com os princípios éticos da permacultura, temos de pensar nos resíduos das obras e em todo o processo que envolve essa construção”, diz. As preocupações são muitas. Em relação ao material: de onde vem, quanto de energia será necessário para transformar a matéria-prima em material de construção e se será exigido algum transporte. Em relação à mão de obra: quem irá construir, se será a própria comunidade em mutirões ou se serão necessários outros trabalhadores. Em relação ao aspecto cultural: se houve resgate de algo daquela comunidade. E quando a construção estiver pronta: sobre a manutenção da casa, por exemplo, quanto de energia ela precisará para se manter confortável.

Projeto de chalé
Projeto de chalé em Carrancas, Minas Gerais

“Por fim, também temos de pensar o que acontece quando a casa não tem mais utilidade. Se olharmos para as construções mais antigas no mundo, normalmente, só as estruturas sagradas duram por muito tempo. Não precisamos construir nossa casa e pensar que ela será para sempre. Por esse motivo, um benefício da bioconstrução é que os materiais que usamos, facilmente, voltam a ser terra ou podem ser reutilizados”, explica.

Pagamento alternativo

“Buscamos modos econômicos mais justos, trabalhamos com economia criativa. Alguns projetos nós cobramos mesmo como na sociedade capitalista, mas sempre estamos abertos para ver quais outros tipos de troca e de comunhão nós podemos criar”, conta Biletska. “Eu como arquiteta também trabalho com gift economy. É uma abordagem na qual eu dou o meu melhor no trabalho e a outra pessoa dá o melhor que ela pode financeiramente. É preciso muita confiança. Estamos experimentando tudo isso, mas não somos contra o dinheiro”, afirma.


Casa construída na ecovila El Nagual em Magé, Rio de Janeiro

"Nós já vivemos a mudança que nós queremos ver no mundo e acreditamos que é certo apoiar esse estilo de vida com recursos financeiros também. Com nosso dinheiro, nós buscamos apoiar os produtores locais e todos aqueles que contribuem com a grande virada para um planeta sustentável. Mas vivendo em pequenas vilas nós criamos mais autonomia do dinheiro e maior interdependência entre os moradores. Por exemplo, em Piracanga, eu posso não usar dinheiro por semanas, pois é possível viver apenas trocando serviços. Mas se eu precisar usá-lo, isso também não será um problema", conclui Biletska.

Fotos: Arquivo Lowconstrutores Descalzos


Para saber de cursos e vivências dos Lowconstrutores Descalzos, acesse o site e a página do Facebook.


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